Segunda Fase da obra de Jorge AMADO
O romance "Grabriela cravo e canela" abre a segunda fase dos romances de Jorge Amado.
Esta fase é um pouco mais madura e mais
descompromissada dos ideais “socialistas”, o autor baiano faz apologia a
liberdade e ao amor, é caso de Gabriela
Cravo e Canela (1958) este romance de acordo com Álvaro Cardoso Gomes (1981)
foi um marco para a escrita de Jorge Amado, estabelecendo uma narrativa mais
leve em relação à fase anterior; Tieta do
Agreste ( 1967) e Dona Flor e seus
dois maridos (1977). Boa parte dos livros deste momento que ganham adaptações
para tv, rádio, cinema e tornaram cada vez mais populares, elevando Amado a
categoria de um dos autores mais conhecidos de nossa literatura. Nesse sentido, Candido (2004, p. 42) afirma
que: “A força do romance moderno foi ter entrevisto na massa, não assunto, mas
realidade criadora”, esta foi uma percepção explorada com qualidade por esse
bom baiano, que como poucos soube criar a partir do povo.
Johniere Alves ribeiro
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II FASE
GABRIELA,CRAVO E CANELA
Resumo
Jorge Amado centra sua narrativa em dois eixos convergentes:
Jorge Amado centra sua narrativa em dois eixos convergentes:
1)As
transformações econômicas ocorridas na cidade de São Jorge dos Ilhéus, na
década de 1920, refletidas no dia-a-dia da cidade e mostradas sob a forma de um
imenso painel onde se agitam dezenas de destinos individuais interligados ao
confronto histórico entre a velha e a nova ordem de poder na região cacaueira.
Vive-se o momento em que os grandes
coronéis desbravadores (representados sobretudo pelo coronel Ramiro, com seu
poder político absoluto e pelo coronel Jesuíno, que assassina a mulher por
surpreendê-la com um amante, conforme o código de honra da região) estão
envelhecendo e morrendo. Uma nova classe, cristalizada na figura de Mundinho
Falcão, o audacioso exportador que busca melhorias para a cidade, como a
construção da barra do porto, começa a minar a autoridade despótica dos
coronéis. É o progresso em luta contra o atraso. São Jorge dos Ilhéus
civiliza-se.
2)
A paixão do sírio-brasileiro Nacib Saad, dono do afamado bar Vesúvio, por sua
recente cozinheira, a mulata Gabriela, uma retirante sertaneja cujo cheiro era
o do cravo e a cor a da canela. As múltiplas complicações causadas por este
amor servem de contraponto ao painel da vida social da cidade e da região.
Gabriela, além dos atributos
culinários, encanta toda a freguesia do Vesúvio com sua beleza, sua malícia
inocente, sua espontâneo desprezo pelas convenções. Nacib apaixona-se por ela e
os dois tornam-se amantes. Contudo, o olhar ávido dos freqüentadores do bar
para as esplendorosas formas da mulata e a maneira alegre como ela recebe os
galanteios exasperam Nacib. E ele resolve não apenas casar-se com a cozinheira,
mas dar-lhe um "status" pequeno burguês, transformando-a em
respeitável senhora e afastando-a do Vesúvio.
Por amor ao agora marido, "moço
bonito", Gabriela aceita a nova situação. Passa a usar vestidos fechados,
sapatos que lhe apertam os pés, até então sempre descalços, e é obrigada a
assistir a insuportáveis recitais poéticos parnasianos, quando o que ela
gostava mesmo era de circo, inclusive dos mais vagabundos. Infeliz na sua
condição burguesa, acaba sendo seduzida por Tonico Bastos, o "don
Juan" de Ilhéus.
Nacib descobre os amantes nus na sua
própria cama e enlouquece de dor e despeito. Mandava a tradição que se lavasse
a honra com sangue, mas ele é um homem bom, pacífico, e apenas dá umas pancadas
na esposa. Depois, humilhado, pensa em fugir da cidade. Os amigos o detém e com
o auxílio do próprio Tonico Bastos, assustado com a ameaça de escândalo,
conseguem a anulação do casamento, invocando um erro jurídico na sua
celebração.
Assim, o árabe não é um "marido
traído", é apenas um "amante traído", o que lhe diminui a
vergonha, mas não o sofrimento pela perda de Gabriela. Também a mulata, expulsa
de casa, lamenta-se porque no fundo do coração ela ainda ama o dono do Vesúvio.
Oportunamente, no desfecho da narrativa, Nacib vence seu orgulho ferido e
recontrata Gabriela como cozinheira. Em seguida, os dois voltam à antiga
condição de amantes. E agora, sem as imposições da ordem moral conservadora -
simbolizada pelo casamento e suas seqüelas - ambos poderão ser felizes.
O reencontro afetivo de Gabriela e
Nacib ocorre simultaneamente com o triunfo político de Mundinho Falcão, o
burguês que veio para modernizar a sociedade cacaueira. Assim, com este viés
otimista, termina o romance.
3. JORGE AMADO (1912- 2001)
O QUE OBSERVAR EM GABRIELA,CRAVO E
CANELA
A) A partir de Gabriela, cravo e canela, Jorge Amado abandona
definitivamente o romance proletário. O primeiro resultado é o abrandamento
do maniqueísmo* anterior. Sua maior compreensão do tecido social e da
existência pessoal, leva-o a humanizar coronéis e burgueses e a desconfiar da
pretensa vocação revolucionária das massas.
B) Outra novidade é o humor que percorre a narrativa. Há um conjunto de cenas engraçadíssimas no texto. Não se trata de um humor sutil, ao contrário, é algo mais próximo do deboche, da farsa, da burla com traços de obscenidade, do riso subversivo. Uma espécie de ironia direta, muitas vezes grosseira, utilizada como protesto contra os preconceitos morais e sociais de sua época. Neste sentido, Jorge Amado assume a tradição humorística / destruidora de Gregório de Matos e de Oswald de Andrade. C) A idéia de compor um painel abrangente da sociedade cacaueira, na década de 1920, leva o escritor a criar uma assombrosa multiplicidade de situações e protagonistas. A exemplo de As mil e uma noites, um acontecimento chama outro e a trama se abre em dezenas de histórias paralelas. Esta sofreguidão narrativa, entretanto, flui magistralmente rumo a uma totalização coerente e equilibrada. Por isso, os leitores de Gabriela têm a sensação de que adentram em um mundo pleno de vida e de naturalidade. Esta ilusão total, que leva o fictício a se transformar em realidade, é o dom supremo dos grandes romancistas. D) A personagem Gabriela em sua rebelião instintiva contra o moralismo de fundo patriarcal-religioso - além de expressar a ânsia vital e o caráter libertário e quase anárquico dos setores populares - antecipa, através de suas escolhas amorosas, novos princípios de comportamento que começavam a germinar no país, no fim dos anos de 1950. Sob este ângulo, Jorge Amado intui de maneira admirável a grande revolução dos costumes que ocorreria nas décadas seguintes. E) O escritor faz o elogio da modernização econômica e da democracia política que permitia a ascensão ao poder de homens comprometidos com mudanças sociais. Por isso, o herói positivo do relato é o exportador Mundinho Falcão. O seu triunfo é o triunfo do arrojo empresarial e da visão capitalista contra o universo semifeudal dos coronéis. F) Impossível esquecer que o romance foi escrito no governo J.K.(1956-1960), que com crescimento industrial de 15% ao ano, gerou grandes esperanças no país. Gabriela, cravo e canela é, portanto, a principal expressão estética desse desenvolvimentismo otimista, ao mesmo tempo que é o canto de cisne do Brasil agrário, substituído por uma sociedade urbana e burguesa.
http://educaterra.terra.com.br/literatura/romancede30/romancede30_22.htm
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Gostei bastante desse estudo sobre essa obra tão famosa! Parabéns professor! Sinto muita falta das aulas. Desejo-lhe muito sucesso em sua carreira! Paz e bem!
ResponderExcluirObrigado Gabriela, você sempre é muito gentil. Fico feliz por saber que você está sempre visitando nosso blog. Espero que ele possa continuar te ajudando.
ResponderExcluirUm grande abraço e até mais.
Johniere