sábado, 25 de maio de 2013

Grabiela, cravo e canela - Segunda Fase de Jorge Amado

Segunda Fase da obra de Jorge AMADO
O romance "Grabriela cravo e canela" abre a segunda fase dos romances de Jorge Amado. Esta fase é um pouco mais madura e mais descompromissada dos ideais “socialistas”, o autor baiano faz apologia a liberdade e ao amor, é caso de Gabriela Cravo e Canela (1958) este romance de acordo com Álvaro Cardoso Gomes (1981) foi um marco para a escrita de Jorge Amado, estabelecendo uma narrativa mais leve em relação à fase anterior; Tieta do Agreste ( 1967) e Dona Flor e seus dois maridos (1977). Boa parte dos livros deste momento que ganham adaptações para tv, rádio, cinema e tornaram cada vez mais populares, elevando Amado a categoria de um dos autores mais conhecidos de nossa literatura.  Nesse sentido, Candido (2004, p. 42) afirma que: “A força do romance moderno foi ter entrevisto na massa, não assunto, mas realidade criadora”, esta foi uma percepção explorada com qualidade por esse bom baiano, que como poucos soube criar a partir do povo.
                                           Johniere Alves ribeiro
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II FASE
GABRIELA,CRAVO E CANELA
Resumo
Jorge Amado centra sua narrativa em dois eixos convergentes:
1)As transformações econômicas ocorridas na cidade de São Jorge dos Ilhéus, na década de 1920, refletidas no dia-a-dia da cidade e mostradas sob a forma de um imenso painel onde se agitam dezenas de destinos individuais interligados ao confronto histórico entre a velha e a nova ordem de poder na região cacaueira.
Vive-se o momento em que os grandes coronéis desbravadores (representados sobretudo pelo coronel Ramiro, com seu poder político absoluto e pelo coronel Jesuíno, que assassina a mulher por surpreendê-la com um amante, conforme o código de honra da região) estão envelhecendo e morrendo. Uma nova classe, cristalizada na figura de Mundinho Falcão, o audacioso exportador que busca melhorias para a cidade, como a construção da barra do porto, começa a minar a autoridade despótica dos coronéis. É o progresso em luta contra o atraso. São Jorge dos Ilhéus civiliza-se.
2) A paixão do sírio-brasileiro Nacib Saad, dono do afamado bar Vesúvio, por sua recente cozinheira, a mulata Gabriela, uma retirante sertaneja cujo cheiro era o do cravo e a cor a da canela. As múltiplas complicações causadas por este amor servem de contraponto ao painel da vida social da cidade e da região.
Gabriela, além dos atributos culinários, encanta toda a freguesia do Vesúvio com sua beleza, sua malícia inocente, sua espontâneo desprezo pelas convenções. Nacib apaixona-se por ela e os dois tornam-se amantes. Contudo, o olhar ávido dos freqüentadores do bar para as esplendorosas formas da mulata e a maneira alegre como ela recebe os galanteios exasperam Nacib. E ele resolve não apenas casar-se com a cozinheira, mas dar-lhe um "status" pequeno burguês, transformando-a em respeitável senhora e afastando-a do Vesúvio.
Por amor ao agora marido, "moço bonito", Gabriela aceita a nova situação. Passa a usar vestidos fechados, sapatos que lhe apertam os pés, até então sempre descalços, e é obrigada a assistir a insuportáveis recitais poéticos parnasianos, quando o que ela gostava mesmo era de circo, inclusive dos mais vagabundos. Infeliz na sua condição burguesa, acaba sendo seduzida por Tonico Bastos, o "don Juan" de Ilhéus.
Nacib descobre os amantes nus na sua própria cama e enlouquece de dor e despeito. Mandava a tradição que se lavasse a honra com sangue, mas ele é um homem bom, pacífico, e apenas dá umas pancadas na esposa. Depois, humilhado, pensa em fugir da cidade. Os amigos o detém e com o auxílio do próprio Tonico Bastos, assustado com a ameaça de escândalo, conseguem a anulação do casamento, invocando um erro jurídico na sua celebração.
Assim, o árabe não é um "marido traído", é apenas um "amante traído", o que lhe diminui a vergonha, mas não o sofrimento pela perda de Gabriela. Também a mulata, expulsa de casa, lamenta-se porque no fundo do coração ela ainda ama o dono do Vesúvio. Oportunamente, no desfecho da narrativa, Nacib vence seu orgulho ferido e recontrata Gabriela como cozinheira. Em seguida, os dois voltam à antiga condição de amantes. E agora, sem as imposições da ordem moral conservadora - simbolizada pelo casamento e suas seqüelas - ambos poderão ser felizes.
O reencontro afetivo de Gabriela e Nacib ocorre simultaneamente com o triunfo político de Mundinho Falcão, o burguês que veio para modernizar a sociedade cacaueira. Assim, com este viés otimista, termina o romance.
3. JORGE AMADO (1912- 2001)
O QUE OBSERVAR EM GABRIELA,CRAVO E CANELA
A) A partir de Gabriela, cravo e canela, Jorge Amado abandona definitivamente o romance proletário. O primeiro resultado é o abrandamento do maniqueísmo* anterior. Sua maior compreensão do tecido social e da existência pessoal, leva-o a humanizar coronéis e burgueses e a desconfiar da pretensa vocação revolucionária das massas.
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B) Outra novidade é o humor que percorre a narrativa. Há um conjunto de cenas engraçadíssimas no texto. Não se trata de um humor sutil, ao contrário, é algo mais próximo do deboche, da farsa, da burla com traços de obscenidade, do riso subversivo. Uma espécie de ironia direta, muitas vezes grosseira, utilizada como protesto contra os preconceitos morais e sociais de sua época. Neste sentido, Jorge Amado assume a tradição humorística / destruidora de Gregório de Matos e de Oswald de Andrade.
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C) A idéia de compor um painel abrangente da sociedade cacaueira, na década de 1920, leva o escritor a criar uma assombrosa multiplicidade de situações e protagonistas. A exemplo de As mil e uma noites, um acontecimento chama outro e a trama se abre em dezenas de histórias paralelas. Esta sofreguidão narrativa, entretanto, flui magistralmente rumo a uma totalização coerente e equilibrada. Por isso, os leitores de Gabriela têm a sensação de que adentram em um mundo pleno de vida e de naturalidade. Esta ilusão total, que leva o fictício a se transformar em realidade, é o dom supremo dos grandes romancistas.
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D) A personagem Gabriela em sua rebelião instintiva contra o moralismo de fundo patriarcal-religioso - além de expressar a ânsia vital e o caráter libertário e quase anárquico dos setores populares - antecipa, através de suas escolhas amorosas, novos princípios de comportamento que começavam a germinar no país, no fim dos anos de 1950. Sob este ângulo, Jorge Amado intui de maneira admirável a grande revolução dos costumes que ocorreria nas décadas seguintes.
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E) O escritor faz o elogio da modernização econômica e da democracia política que permitia a ascensão ao poder de homens comprometidos com mudanças sociais. Por isso, o herói positivo do relato é o exportador Mundinho Falcão. O seu triunfo é o triunfo do arrojo empresarial e da visão capitalista contra o universo semifeudal dos coronéis.
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F) Impossível esquecer que o romance foi escrito no governo J.K.(1956-1960), que com crescimento industrial de 15% ao ano, gerou grandes esperanças no país. Gabriela, cravo e canela é, portanto, a principal expressão estética desse desenvolvimentismo otimista, ao mesmo tempo que é o canto de cisne do Brasil agrário, substituído por uma sociedade urbana e burguesa.
 
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Jorge, o escritor mais amado do Brasil

Jorge, o escritor mais amado do Brasil

Jorge Amado é o escritor mais popular no Brasil e fora dele. Tem suas obras traduzidas em vários idiomas.
A partir da Bahia Amado consegue traçar um perfil tanto do homem brasileiro quanto do homem e sua universalidade.
Segue abaixo um comentário sobre o autor e suas fases. Nesta postagem estaremos apresentado uma análise mais detida sobre a I Fase, a chamada de "Fase Proletária".

               Johniere Alves Ribeiro

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 JORGE AMADO (1912- 2001)
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Jorge Amado e Zélia Gattai
Vida: Nasceu em uma fazenda na cidade de Itabuna, filho de um coronel que experimentou simultaneamente a riqueza e a pobreza e que viveu as lutas pela posse da terra para o plantio do cacau, mais tarde retratadas pelo escritor. A família mudou-se em seguida para Ilhéus. Em 1923, com 11 anos, Jorge foi matriculado com interno no colégio Antônio Vieira, dos jesuítas, em Salvador de onde fugiu três anos depois, atravessando todo o sertão baiano em uma grande aventura. Terminou os estudos secundários no colégio Ipiranga e ingressou na faculdade de Direito no Rio de Janeiro, no ano de 1930. Nesta mesma década, vinculou-se ao partido Comunista, tornando-se nos anos subseqüentes uma espécie de porta-voz artístico do mesmo. Em 1936 esteve dois meses preso por suspeita de participação na intentona comunista. Em 1937, a proibição e queima pela policia do romance Capitães de areia transformou-o no escritor mais conhecido no Brasil. O sucesso de suas obras estendeu-se rapidamente por outros países.
Durante o Estado Novo, Jorge Amado viajou por toda a América Latina e pelos Estados Unidos e foi preso várias vezes. Entre 1941 e 1942 viveu em Buenos Aires e Montevidéu. Voltou para Salvador, lá permanecendo de 1943 a 1945. Neste último ano, já em São Paulo, casou-se com Zélia Gattai. Em 1946, com a redemocratização foi eleito deputado federal pelo P.C.B, recebendo expressiva votação em São Paulo. Como o partido foi declarado ilegal, seu mandato foi cassado em 1948. Em 1951, ganhou o prêmio Stálin de Literatura com Seara vermelha. Viajou o mundo inteiro, muitas vezes na companhia de Pablo Neruda, outro intelectual comunista. A publicação de Gabriela, cravo e canela, em 1958, representou uma mudança estética-ideológica em sua obra. A partir de então viveu basicamente em Salvador, passando, no entanto, longas temporadas no exterior. Consolidou-se como o escritor brasileiro mais traduzido e que mais vendeu livros em todos os tempos.
Obras principais:

http://educaterra.terra.com.br/literatura/romancede30/img/ja_05.gifI FASE
O país do carnaval (1931); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar morto (1936); Capitães de areia (1937); Terras do sem fim (1943); São Jorge dos Ilhéus (1944); Seara vermelha (1946); Os subterrâneos da liberdade (1954).

http://educaterra.terra.com.br/literatura/romancede30/img/ja_06.gifII FASE
Gabriela, cravo e canela (1958); Os velhos marinheiros (1961); Os pastores da noite (1964); Dona Flor e seus dois maridos (1966); Tenda dos milagres (1969); Tereza Batista cansada de guerra (1972); Tieta do Agreste (1977); Farda, fardão, camisola de dormir (1979); Tocaia Grande (1984); O sumiço da santa (1988); A descoberta da América pelos turcos (1994).

Outras obras: ABC de Castro Alves (biografia,1941); O cavaleiro da esperança (biografia,1942); Navegação de cabotagem (memórias, 1992).
 JORGE AMADO (1912- 2001)
I FASE
Aos dezoito anos, Jorge Amado estreou com País do carnaval, um romance medíocre onde tentava retratar os impasses ideológicos e existenciais de um grupo de jovens intelectualizados e inadaptados à realidade brasileira, no mesmo período em que ocorria a Revolução de 1930. O autor certamente não estava à altura do assunto, (o debate profundo de idéias jamais seria o seu forte), porém o romance - por ter o caráter de depoimento de uma geração sem rumo - obteve repercussão e tornou conhecido o seu nome nos círculos letrados do país.
No ano subseqüente, 1933, o escritor lançou Cacau. "Romance pequeno e violento", escreveria ele mesmo, mais tarde, a respeito da obra, que trazia duas grandes novidades: - Incorporação ao romance realista de 1930 da região cacaueira do sul da Bahia. - O anúncio pelo autor da radicalização política de seu projeto estético: " Tentei contar neste livro com um mínimo de literatura para o máximo de honestidade a vida do trabalhador das fazendas de cacau do sul da Bahia. Será um romance proletário?"
Jorge Amado aderira ao marxismo e a partir de agora dispunha-se a transformar seus relatos em propaganda revolucionária. Cumpria assim, antecipadamente o que, ainda na década de 1930, Stálin exigiria dos escritores ("engenheiros de almas"): a criação de heróis positivos que lutassem pela utopia socialista. * * Na extinta URSS a celebração da nova ordem tornou-se obrigatória para os artistas. Instituiu-se então o chamado realismo socialista no qual, através de formas estéticas convencionais, louvava-se o mundo estalinista.

O ROMANCE PROLETÁRIO
É como legítimo "engenheiro de almas" que o jovem ficcionista, a partir de Cacau, estabelece um modelo de estrutura narrativa repetida em quase toda a sua primeira fase:
A) O herói, oriundo das camadas populares, deve ter sempre um caráter positivo, ou seja, precisa apresentar uma postura reinvindicatória ou revolucionária. Porém, no início dos relatos, ele invariavelmente, encontra-se em estado de alienação de sua própria miséria, desconhecendo-lhe as causas.
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B) No transcorrer da ação, o herói adquire consciência da opressão que o vitima. Os opressores serão genericamente o latifundiário, o burguês e o agente do imperialismo ianque. (Com isso, o autor estabelece uma esquematização psicológica caricatural: os trabalhadores são necessariamente generosos e justos, enquanto os ricos sempre são pérfidos e exploradores)
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C) A partir da conscientização dos males sociais que o afligem, o herói parte para a ação política e, no caso de São Jorge dos Ilhéus e Seara Vermelha, para uma explícita ação ideológica-partidária, conforme os preceitos do partido Comunista.
Esta fórmula (alienação - conscientização - ação política final ) sedimenta-se em quase todos os romances da I fase. Em Cacau, por exemplo, o trabalhador Colodino deixa a fazenda para fazer um curso no Rio de Janeiro, prometendo retornar e lutar com os demais camponeses. Já em Suor, desempregados, operários e mulheres enfrentam a polícia nas ruas de Salvador.
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Cena de Jubiabá por Caribé
No caso de Mar morto - apesar das vivas denúncias sociais que percorrem o texto - a conscientização da heroína, Lívia, após a morte de seu companheiro, o marinheiro Guma, é menos política e mais existencial. Adversa à vida no mar, Lívia, no último momento da narrativa, assume o comando do saveiro de seu amado para dar continuidade ao trabalho do mesmo.
Em Jubiabá, o protagonista mais importante, o negro Antônio Balduíno vivencia os poucos destinos possíveis das camadas populares baianas: menino de rua, vagabundo, sambista, boxeador, trabalhador rural, artista de circo e, por fim, estivador, quando torna-se líder de uma greve que explode no porto. Seu pai adotivo, Jubiabá, é um pai-de-santo que desconfia da ação política do filho, mas não chega a rejeitá-la completamente. Já Antônio Balduíno supera a religiosidade familiar pelo envolvimento sindical. Frise-se, no entanto, Jorge Amado descreve sem preconceitos o candomblé e os rituais afro-brasileiros, vendo-os como legítima expressão da cultura negra.
ROMANCE DE 30

Regionalismo de 30 e uma nova forma narrativa


  Romance de 30




      Graciliano Ramos, a literatura sem bijuterias 
    
José Lins do Rego - Homenagem aos seus 100 anos 
  
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Um pouco sobre o Romance de 30
A Segunda Geração do Modersnimo foi um dos momentos mais produtivos em nossa Literatura. É nela que consta os principais, os mais conhecidos e os mais lidos autores das Letras brasileiras, foi a partir destes autores que o Brasil estabeleceu para o mundo uma “fórmula” de escrever narrativas e passou a influenciar vários autores.
Chama-se de romance de 30 ou Neorrealismo a produção ficcional brasileira de inspiração realista produzida a partir de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, que inaugura o referido ciclo.
Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se também o conceito de romance regionalista para indicar os relatos da época, apesar de alguns romances urbanos fazerem parte do mesmo período.
As características comuns aos romances de 30 são a verossimilhança, o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais, a linearidade narrativa, a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais) e a construção ficcional de um mundo que deve dar a idéia de abrangência e totalidade. Características muito semelhantes às do Realismo machadiano, com o acréscimo do regionalismo e das conquistas modernistas de introspecção e liberdade lingüística.
A década foi marcada também por um impressionante florescimento de estudos sobre a sociedade brasileira, com destaque especial para Casa-grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre.
Quanto à temática, os romancistas de então enfatizam as questões sociais e ideológicas. É uma época de efervescência política no país e no mundo: no Brasil Getúlio Vargas assume depois de uma Revolução e inauguraria o Estado Novo, enquanto o mundo vive o período entre-guerras e assiste à ascensão do socialismo na União Soviética. O escritor, ao invés de pegar em armas, usa a ficção, a descrição e o romance como forma de denunciar as desigualdades e injustiças.
Johniere Alves ribeiro ( texto adaptado)
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CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE DE 30
Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Erico Verissimo e os demais autores adotaram alguns princípios básicos do romance realista:
  • a verossimilhança;
  • o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais;
  • a linearidade narrativa;
  • a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais);
  • construção ficcional de um mundo que deve dar a idéia de abrangência e totalidade.
As relações com a geração de 1922
Face a este neo-realismo, caberia uma pergunta: Até que ponto os romancistas de 30 foram modernistas? Ou seja, até que ponto representaram uma continuidade das vanguardas paulistas de 22?
Ao contrário dos poetas (Vinícius, Drummond, Murilo Mendes, etc.), que apareceram nos anos 30 e que, claramente, expressaram a sua ligação com o projeto vanguardista, representando inclusive uma espécie de segunda fase, ou fase madura do movimento, os romancistas pouco ou nada tinham a ver com o grupo de Mário e Oswald de Andrade. Seus vínculos eram muito mais fortes com os prosadores russos e norte-americanos - como já foi referido - e com Eça de Queirós, Aluísio Azevedo, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato e demais autores com quem tinham similaridade estética e ideológica.
Daí ser preferível - sob este ângulo - a adoção do termo romance de 30 para designar o conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1970, por um mesma geração, oriunda de famílias oligárquicas arruinadas ou decadentes, com uma visão de mundo crítica, idêntico sentido missionário da literatura e padrões artísticos comuns e bastante próximos do realismo do século XIX.
Deve-se ressaltar, contudo, que, apesar de sua desconfiança em relação às ousadias paulistanas, os romancistas de 30 herdaram dos modernistas uma liberdade de expressão inigualável. Aproveitaram-se disso para impregnar os seus relatos de coloquialismo, estilo direto e concisão verbal, criando um efeito de simplicidade que ainda hoje seduz os leitores.

OS MUNDOS NARRADOS
Romances de temática agrária
Pode-se afirmar que uma parte importante do romance de 30 centralizou-se em torno do universo rural em declínio ou já desaparecido. A tradução deste processo social deu-se em alguns núcleos temáticos:
A) - A ascensão e queda dos "coronéis": Bangüê e Fogo morto, de José Lins do Rego; Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo, por exemplo. Estes relatos oscilam entre a saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais contundente, seja a ideológica (Jorge amado), seja a ética (Erico Verissimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom nostálgico e melancólico diante das ruínas dos engenhos.
B) - Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da realidade fundiária nordestina, opressiva e excludente.
C) - O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano: este é o ponto nuclear de alguns dos mais importantes títulos da narrativa brasileira do século XX. O choque entre Paulo Honório e Madalena em São Bernardo, de Graciliano Ramos, sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e a urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, o romance Angústia revela a solidão e a destruição de Luís da Silva, descendente da oligarquia, na teia complexa das relações citadinas. Aliás, este fenômeno ocorre igualmente em Totonho Pacheco, de João Alphonsus.
Por outro lado, tanto em A bagaceira, de José Américo de Almeida, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens principais, Lúcio e Conceição - embora filhos das velhas elites agrárias - foram modernizados pela escolarização na cidade e acabaram questionando o horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.
Romances de temática urbana
A urbanização ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se constituía, fosse sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos). Os núcleos temáticos abordados foram:
A) - As camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de Areia e Mar morto, de Jorge Amado; Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes.
B) - Os setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de Faria, Os ratos, de Dyonélio Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.
Um romance regionalista?
Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se o conceito de romance regionalista para indicar os relatos produzidos a partir de 30 (ou de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, e que inaugura o referido ciclo). Como este conceito continua aparecendo em todos os manuais, vestibulares e análises sobre a época, não podemos rejeitá-lo completamente.
Mas, como já se disse em outra passagem deste livro, não existe narrativa - mesmo a mais cosmopolita ou a mais intimista - que não tenha aspectos locais. Machado de Assis, por exemplo, apresenta elementos da sociedade carioca em suas histórias. Então o Rio de Janeiro não é uma região? Erico Verissimo seria regionalista ao escrever sobre as estâncias. E ao escrever sobre Porto Alegre seria o quê?
Ou seja, em vez de usarmos o desgastado termo regionalismo (que faz confusão entre geografia e estética), poderíamos nos valer de expressões que delimitam melhor o objeto de nossos estudos: narrativas do mundo rural e narrativas do mundo urbano.
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 Romance de 30
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CRONOLOGIA DOS PRIMEIROS ROMANCES DE 30
  • 1928 - A bagaceira, de José Américo de Almeida.
  • 1930 - O quinze, de Rachel de Queiroz; O país do carnaval, de Jorge Amado
  • 1932 - Menino de engenho, de José Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; João Miguel, de Rachel de Queiroz.
  • 1933 - Doidinho, de José Lins do Rego; Caetés, de Graciliano Ramos; Clarissa, de Erico Verissimo; Os Corumbas, de Amando Fontes.
  • 1934 - Bangüê, de José Lins do Rego; São Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de Jorge Amado.
  • 1935 - Jubiabá, de Jorge Amado; Música ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de Dyonélio Machado.