quarta-feira, 30 de julho de 2014

Realismo no Brasil - características


O Realismo no Brasil tem sua marca logo após a metade do século XIX e se apresenta como um modelo de arte que irá, por meio de uma descrição objetiva da realidade, redimensionar o papel da Literatura e rompendo com paradigma apresentado pelo Romantismo, escola antecedente. Mas, é bom lembrarmos que o Realismo não estava só nesta batalha, pois neste momento ainda temos o Naturalismo – como extensão das propostas realistas, e o Parnasianismo, manifestação dos ideais realistas na poesia. Seria bom ressaltar que este Realismo brasileiro aponta para duas vertentes:  a primeira teria por base os problemas sociais, centralizadas no ambiente urbano e nos elementos do dia a dia;  enquanto a segunda, tem pontos de concexão com o  Naturalismo, associando a conduta humana  e a terra, em uma relação quase de combate entre o ambiente e o homem.

Diante deste pequeno resumo, peço para que leiam com atenção os textos que segue, como também os videos, pois lhe ofertarão um pouco mais de informação para o aprimoramento dos seus estudos e consolidação dos seus conhecimentos.


Johniere Alves Ribeiro 



Realismo

Realismo marcou fortemente a literatura europeia na segunda metade do século 19. O amadurecimento das tendências que o caracterizaram deu-se a partir dos movimentos revolucionários de 1848.
É importante assinalar que as relações do Realismo com o Romantismo são bem mais complexas dos que as de uma simples negação - existem no Realismo elementos de acentuada contestação do Romantismo, mas também de continuidade.
Entre os principais escritores do Realismo destacam-se os franceses Balzac e Flaubert.

Características
 
·         O excessivo subjetivismo romântico é substituído pela descrição da realidade (e da relação do homem com a sociedade).

·         Influência de movimentos políticos (socialismo, comunismo, anarquismo etc.).

·         A ciência se afirma como único método para se conhecer, efetivamente, a realidade.

·         Novos campos do conhecimento (como a sociologia e a psicologia) influenciam a literatura.

·         O "eu" literário não será mais fruto da espontaneidade ou da emotividade, como no Romantismo, mas de uma reflexão muitas vezes aguda e sempre consciente dos limites que a sociedade impõe ao homem - e das angústias e insatisfações daí decorrentes.
Realismo no Brasil
 As raízes do Realismo brasileiro remontam a Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
 Lentamente, os escritores abandonam o verso condoreiro ou grandiloquente de Castro Alves e o idealismo de José de Alencar, com sua tendência a enaltecer o índio, transformando-o na figura do “bom selvagem” de Rousseau.
 Passa a ocorrer uma tentativa de reconhecimento da realidade brasileira, acompanhada da reelaboração da linguagem.
 Há uma diversificação das técnicas narrativas, seja na utilização do material regional como base da ficção, seja no estudo de individualidades e seus relacionamentos sociais.
 O texto literário ganha autonomia. Não há mais um projeto nacional a lhe determinar o conteúdo ou a forma. O texto passa a ser obra de arte autônoma, cujo objetivo é, antes de tudo, exatamente esse: ser obra literária.

Áudio do conto " A Cartomante" 


Obras e autores

·         O Ateneu, de Raul Pompeia: o discurso narrativo que compõe o mundo do pequeno Sérgio, levado pelo pai para um colégio interno (Ateneu), instaura, na verdade, um microcosmo que acentua e intensifica a realidade existente fora do colégio. É o primeiro romance a retratar, no Brasil, a adolescência. O autor mescla refinada psicologia e crítica aos valores da sociedade.

·         Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha: com traços naturalistas, o romance critica o castigo corporal, comum na Marinha da época, e faz um estudo do homossexualismo. É uma construção sóbria e precisa.
 
·         Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva: trata-se de uma anotação regional cuidadosa de ambientes e de usos da língua (inclusive das estruturas sintáticas). História trágica baseada em fatos reais.

Merece atenção especial o caso singular de Machado de Assis. Poeta, crítico, genial como contista e romancista, a obra machadiana estilhaça os esquemas literários da época, aprofunda as experimentações com a linguagem, torna mais complexa a sondagem do drama humano e demonstra preocupação inusitada com os elementos da própria narrativa (tempo, espaço, personagens, etc. se distanciam dos chavões da época).

A obra de Machado de Assis pretende, em sua essência, analisar o espírito humano e refletir sobre os valores que não pertencem apenas aos brasileiros, mas são patrimônio de todos os homens. E Machado o faz sem perder de vista a realidade brasileira, antecipando-se aoModernismo e criando um texto ácido, no qual a ironia e a paródia são extremamente refinadas.

O núcleo narrativo machadiano é composto pelos romances:

·         Memórias póstumas de Brás Cubas (1881): narrada por um defunto, a obra apresenta a vida do anti-herói Brás Cubas. Com alta carga irônica, Machado inova, inclusive, nos recursos gráficos. É um divisor de águas não só na obra machadiana, mas na própria literatura brasileira. 
·         Quincas Borba (1891): narra as desventuras do tolo Rubião, que chega a ser cômico em seu completo despreparo para a vida. Machado também aproveita o romance para fazer críticas irônicas ao darwinismo. 
·         Dom Casmurro (1899): obra de caráter ambíguo, com personagens complexos, a história é contada por um narrador que, gradativamente, vai se revelando pouco confiável, o que só aprofunda ainda mais a insegurança e as dúvidas do leitor. De maneira genial, Machado apresenta os limites e os paradoxos da linguagem por meio da própria linguagem.
Machado de Assis fundou a literatura brasileira enquanto entidade autônoma, desvinculada de um projeto nacional, e exatamente por isso madura, aberta ao diálogo com os valores universais da humanidade.(http://vestibular.uol.com.br/revisao-de-disciplinas/literatura/realismo.jhtm)


Machado de Assis : um mestre na periferia do capitalismo 

Dom Casmurro : Análise de obra de Machado de Assis
                                 Por Márcia Lígia Guidin, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Se você ler essa obra de Machado de Assis com atenção, verá que Bentinho(apelidado de "casmurro", de velho, viúvo e calado) decide contar sua história desde a infância para compreender algo mais do que o suposto adultério de sua mulher: ele quer saber se ela sempre foi como ele a via depois do casamento: falsa e dissimulada. Enquanto Bentinho narra seus amores, ele manipula nossas opiniões, pois vai dando pistas de que ela poderia mesmo tê-lo traído e ter tido um filho com o melhor amigo dele.

       Mas fique esperto: é a voz dele, rico e bem-sucedido advogado, que você lê. 
Capitunão está mais lá no seu "julgamento" para se defender. Ela já havia morrido. E ele precisa entender o que houve com seu amor e seu casamento. Ele é, se não nos deixamos enganar e o lermos melhor, um homem conservador, patriarcal, inseguro (filho único de D. Glória, viúva rica). Inseguro e mimado desde menino, só soube, por exemplo, que gostava de Capitu quando ouve, aos quatorze anos, atrás da porta, uma conversa de José Dias, o agregado da família com sua mãe.
    Leva um susto, pois descobre o amor pela voz de outra pessoa. Crescido, depois de conseguir se livrar do seminário a que estava destinado por promessa de sua mãe (leia a "negociação" que fizeram com Deus...é deliciosa), casa-se com Capitu. E pouco depois do nascimento do filho começam os ciúmes.

 
Tema de Dom Casmurro
Do romance "Dom Casmurro", pode-se dizer que o tema é mais o ciúme que o adultério. Por que a questão central não é o adultério? Porque não sabemos (nem saberemos) se Capitu o traiu. Machado escreve o romance com total ambiguidade, dando sinais de que de fato a mulher poderia ter traído o marido, mas este, contando sua própria história e sendo tão frágil, também pode ser um psicótico. Esse romance é o resultado de um exercício de escrita fabuloso, pois até hoje discute-se a força dos argumentos do narrador de "Dom Casmurro".


A filosofia dos contos machadianos 



Contos de Machado de Assis

Mas por falar em adultério, muitos são os contos que falam dele: "Missa do Galo", "Singular Ocorrência", "Noite de Almirante", "A Cartomante", "Último Capítulo". Nm deles, o marido trai a mulher com sua melhor amiga - chama-se A Senhora do Galvão. A esposa recebe muitas cartas anônimas, mas como não quer perder a vida confortável que tem, rasga-as todas. O escritor anônimo fica furioso, por não poder sequer usufruir da vaidade de ter sido moralista... Vale a pena ler.
      A 
vaidade acompanha muitas obras de Machado de Assis: desde o romance "Brás Cubas" até o último, "Memorial de Aires", sempre há os vaidosos e os exibicionistas. Crueldade disfarçada? Leia o conto "Pai contra mãe".
     E, para ver como o homem é um ser contraditório, não deixe de lado o conto "A igreja do diabo": depois de tanto esforço, cansado de ser humilhado o diabo contruiu sua igreja. E não é que os adeptos, que eram muitos e muitos começaram a praticar boas ações às escondidas? Essa nem o diabo aguentou...
     Ler Machado de Assis é muito mais do que uma obrigação; é um modo de compreender melhor a sociedade na qual vivemos e da qual usufruímos. Valores éticos e morais muitas vezes são relativizados. E foi essa máscara que Machado de Assis levantou com destreza, bom humor e ceticismo.

(http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/dom-casmurro-2-analise-de-obra-de-machado-de-assis.htm)


NÃO TROCO MEU "OXENTE" PELO "OK" DE NINGUÉM

Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!”


O reino da cultura popular nordestina perdeu neste julho de 2012 o seu embaixador, Ariano Suassuna,  que  se encantou e deixou este mundo de dureza esperançosa e partiu montado à galope para o reino do além. Fica apenas a saudade e a certeza do legado de um homem que tentou nos apresentar a nossa própria cultura e a nossa arte.
Desde que li “ O Auto da Compadecida”, tão bem transposta para o cinema; “ E o Santo e a Porca” renovei meu gosto pela literatura nordestina e pelos nossos autores. Daí busquei ler “ A Pedra do Reino”, com todo o seu sertão mítico; passei a  reler Lourdes Ramalho comecei pela peça “ As velhas” e não parei mais,  tive curiosidade em ler Hermilo Borba Filho e a sua “A Felicidade”; aprofundei meus estudos na Literatura de Cordel, principalmente nos clássicos como “O Romance do Pavão Misterioso”, “ Juvenal e o Dragão”, “ Coco Verde e Melancia”, etc; mas me dediquei aos folhetos de Manoel Monteiro...
Diante disso, posso afirmar que quem lem contato com a obra de Ariano  não deixará de amar o Nordeste e seu povo, se encantará com nossa realidade e entenderá o porque do nordestino ser “ antes de tudo um forte”, tal qual afirmou Euclides da Cunha”   
Sendo assim, segue algumas frases emblemáticas de Ariano, um pouco da biografia do autor, como também videos em o nosso bardo é o personagem central.

                  Johniere Alves Ribeiro
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Algumas frases emblemáticas de Ariano Suassuna:
“Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!”
Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”
Ariano Suassuna


“A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.”
Ariano Suassuna

“… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.”
Ariano Suassuna


Sou um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimento
Ariano Suassuna




“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Ariano Suassuna

LÁPIDE

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna

Biografia
Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87 anos.
Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan.
Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.
A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte.
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPe. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes (1994-1998).
Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada noRomance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000).
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.

sábado, 26 de julho de 2014

TRIBUTO AO POETA MANOEL MONTEIRO - MAAC - CAMPINA GRANDE



O texto que segue escrevi para o Sarau do MAAC , como  parte de uma das últimas homenagens póstumas - 24/07/2014 - ao poeta Manoel Monteiro . 





  Fiquei muito feliz em term participado deste tributo ao saudoso poeta Manoel Monteiro.



Johniere Alves Ribeiro

Assista um pouco do poeta 



Documentário sobre Manoel Monteiro 

Trecho do Especial Itararé com participações do poeta no programa 


Amigo poeta: o voo solitário de Manoel Monteiro




Sorriso nos lábios. Seriedade melancólica nos os olhos. Eloquência no uso das palavras. Firmeza em seus posicionamentos. Alto nível de capacidade criativa. Tradição e inovação. Estas foram características marcantes do poeta Manoel Monteiro, homem que redimensionou a Literatura de Cordel em nosso país.  Poeta que foi de fundamental importância para a inserção do folheto no interior das escolas em nossa cidade e talvez em boa parte do Brasil.
A primeira vez que vi Manoel Monteiro ainda era criança. Lembro-me como hoje, na travessa Joaquimda Silva Zeca, rua que sobe da Avenida Canal pela lateral do antigo Restaurante Topical, hoje uma loja de carros - era a casa do seu filho Robson (onde me deliciava com seus gostosos pastéis). Jogava bola com amigos, quando o vi, sentando na calçada, com uma máquina de escrever portátil ao colo. Estava produzindo, com certeza, mais uma de suas histórias. Aproximei-me daquele senhor, entendi pouca coisa naquele instante e voltei ao jogo. Não sabia eu que aquele senhor seria muito importante para toda a minha formação acadêmica.
Foi pelas mãos de Manoel que tive a oportunidade de adentrar no incrível mundo dos folhetos de cordel, isto porque passei a vender cordel para o poeta, o que me ofertou um conhecimento mais aprofundado desta arte popular. Pois, antes, durante e depois de deixar-me alguns folhetos Manoel sempre conversava e me falava sobre os principais autores e histórias. A partir deste momento começa nossa amizade. E ao entrar no curso de Letras eu já sabia o que iria estudar: Literatura de Cordel, mas precisamente os folhetos monteirianos.
Diante disto que exponho, confesso a todos que compareceram aqui, o quanto foi difícil colocar todos os verbos desta minha fala no passado, ao me referir ao poeta. Aqui e acolá, “me peguei” construindo frases com os verbos no presente. Todavia, acredito que não importa mais as conjugações verbais, Manoel continuará sempre vivo em sua obra. Sua voz altissonante que já tinha enchido a feira com as variadashistórias cordel, que a pouco nos dava a alegria de ouvi-lo em palestras e cursos de formação em torno da literatura popular, nunca ficará distantes de nós. É só ler um dos seus folhetos  e como quem coloca uma conja da o mar aos ouvidos e escuta as ondas da praia ainda muito distantes como se estivessem por perto, da mesma forma voltaremos a ouvir o timbre forte da voz do poeta da Vigário Virgário ecoar.


Mas sem dúvida, confesso a todos vocês, que será muito difícil encarar nossa VigárioVirgínio, na altura do número 52, sem mais avistar o poeta no portão do pequeno terraço de sua casa,com o sorriso nos lábios, mas os olhos sempre sérios, ignotos no tempo, com quem procura uma nova inspiração. Não o veremos mais com suas tradicionais camisas vermelhas, vestido como quem está pronto para a guerra. Com certeza estava fardado para a luta quase inglória contra os versos e as palavras que ali em sua mente borbulhavam.
Manoel Monteiro, em alguns dos folhetos, exerceu a bem-aventurança da “fome e da sede de justiça”.Usando sua arte em favor dos menos favorecidos. Fez com maestria a execução desta bem-aventurança em suas letras. E no silêncio quase introspectivo de um monge, em sua sala (templo sagrado do cordel) no fundo daquele olhar consegue perceber o que se passava a sua volta e que era preciso registrar a voz dos marginalizados da nossa sociedade.
Soube usar a sua literatura como arma a favor do seu povo. Soube lapidar - como quem esculpe em bruto ferro –, significantes e significados que ontem, hoje e sempre pairarão por sobre nós. Estes significantes e significados ajudaram a colocar nosso poeta no panteão dos imortais cordelistas nordestinos.
Os folhetos do poeta configuraram, quem sabe, uma nova página na história da Literatura Popular. Ele também foi o responsável em instituir o que chamava de NOVO CORDEL, voltado para a atualização dos temas, nunca tentativa de aproximar o leitor contemporâneo de uma modalidade literária centenária. Tinha alguns folhetos traduzidos para outras línguas e publicados em grandes editoras de nosso país. Participou de uma edição da Bienal do Livro em São Paulo. Foi consultado por produtores de novelas de uma grande rede TV do país, ainda não sabia da novela “Cordel Encantado”, só depois entendeu o porquê da visita daquelas pessoase porquê de tantas perguntas.

Foi por essas e por outras que Monteiro tornou-se o maior ícone vivo da literatura de cordel. Com isto, podemos dizer que o poeta fez valer sua cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, tornando-se um verdadeiro embaixador do cordel em nosso país.
Tenho certeza queaquele 30 de maio de 2014, dia do seu sumiço, desemborcou em uma realidade imaginada por todos nós. Os passos dados pelo nosso poeta naquela dura caminhada recheada de conflitos devem ser vistos hoje como símbolo de força, de coragem, reflexos do perfil e da conduta de um homem esculpiu sua trajetória nos versos de uma vida inteira. Gostei do comentário que o poeta Lau Siqueira postou no blog “A Barca”,ao comentar a partida do nosso poeta: “... foi voando, feito um passarinho. Foi para bem longe. Voou o mais alto que pode. Então, despediu-se da vida com a mesma dignidade que viveu. Não vamos cobrar qualquer explicação do poeta. Ele apenas decidiu voar sobre os abismos e se abrigar na eternidade. Vamos respeitar sua vontade. Vamos compreender que a sua imortalidade começa agora. Sua obra é sua eternidade desde que saiu da casa do pai, sustentado nas asas do cordel”.
Obrigado Manoel Monteiro por elevar a Literatura de Cordel e por aceitar-me como pesquisador de sua obra, como também ter-me no teu seleto grupo de amigos.
Que Deus abençoe e conforte toda tua família, com também a todos nós amantes da Literatura de Cordel.

Johniere Alves Ribeiro