sábado, 25 de maio de 2013

Regionalismo de 30 e uma nova forma narrativa


  Romance de 30




      Graciliano Ramos, a literatura sem bijuterias 
    
José Lins do Rego - Homenagem aos seus 100 anos 
  
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Um pouco sobre o Romance de 30
A Segunda Geração do Modersnimo foi um dos momentos mais produtivos em nossa Literatura. É nela que consta os principais, os mais conhecidos e os mais lidos autores das Letras brasileiras, foi a partir destes autores que o Brasil estabeleceu para o mundo uma “fórmula” de escrever narrativas e passou a influenciar vários autores.
Chama-se de romance de 30 ou Neorrealismo a produção ficcional brasileira de inspiração realista produzida a partir de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, que inaugura o referido ciclo.
Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se também o conceito de romance regionalista para indicar os relatos da época, apesar de alguns romances urbanos fazerem parte do mesmo período.
As características comuns aos romances de 30 são a verossimilhança, o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais, a linearidade narrativa, a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais) e a construção ficcional de um mundo que deve dar a idéia de abrangência e totalidade. Características muito semelhantes às do Realismo machadiano, com o acréscimo do regionalismo e das conquistas modernistas de introspecção e liberdade lingüística.
A década foi marcada também por um impressionante florescimento de estudos sobre a sociedade brasileira, com destaque especial para Casa-grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre.
Quanto à temática, os romancistas de então enfatizam as questões sociais e ideológicas. É uma época de efervescência política no país e no mundo: no Brasil Getúlio Vargas assume depois de uma Revolução e inauguraria o Estado Novo, enquanto o mundo vive o período entre-guerras e assiste à ascensão do socialismo na União Soviética. O escritor, ao invés de pegar em armas, usa a ficção, a descrição e o romance como forma de denunciar as desigualdades e injustiças.
Johniere Alves ribeiro ( texto adaptado)
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CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE DE 30
Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Erico Verissimo e os demais autores adotaram alguns princípios básicos do romance realista:
  • a verossimilhança;
  • o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais;
  • a linearidade narrativa;
  • a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais);
  • construção ficcional de um mundo que deve dar a idéia de abrangência e totalidade.
As relações com a geração de 1922
Face a este neo-realismo, caberia uma pergunta: Até que ponto os romancistas de 30 foram modernistas? Ou seja, até que ponto representaram uma continuidade das vanguardas paulistas de 22?
Ao contrário dos poetas (Vinícius, Drummond, Murilo Mendes, etc.), que apareceram nos anos 30 e que, claramente, expressaram a sua ligação com o projeto vanguardista, representando inclusive uma espécie de segunda fase, ou fase madura do movimento, os romancistas pouco ou nada tinham a ver com o grupo de Mário e Oswald de Andrade. Seus vínculos eram muito mais fortes com os prosadores russos e norte-americanos - como já foi referido - e com Eça de Queirós, Aluísio Azevedo, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato e demais autores com quem tinham similaridade estética e ideológica.
Daí ser preferível - sob este ângulo - a adoção do termo romance de 30 para designar o conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1970, por um mesma geração, oriunda de famílias oligárquicas arruinadas ou decadentes, com uma visão de mundo crítica, idêntico sentido missionário da literatura e padrões artísticos comuns e bastante próximos do realismo do século XIX.
Deve-se ressaltar, contudo, que, apesar de sua desconfiança em relação às ousadias paulistanas, os romancistas de 30 herdaram dos modernistas uma liberdade de expressão inigualável. Aproveitaram-se disso para impregnar os seus relatos de coloquialismo, estilo direto e concisão verbal, criando um efeito de simplicidade que ainda hoje seduz os leitores.

OS MUNDOS NARRADOS
Romances de temática agrária
Pode-se afirmar que uma parte importante do romance de 30 centralizou-se em torno do universo rural em declínio ou já desaparecido. A tradução deste processo social deu-se em alguns núcleos temáticos:
A) - A ascensão e queda dos "coronéis": Bangüê e Fogo morto, de José Lins do Rego; Terras do sem fim e São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo, por exemplo. Estes relatos oscilam entre a saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais contundente, seja a ideológica (Jorge amado), seja a ética (Erico Verissimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom nostálgico e melancólico diante das ruínas dos engenhos.
B) - Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da realidade fundiária nordestina, opressiva e excludente.
C) - O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano: este é o ponto nuclear de alguns dos mais importantes títulos da narrativa brasileira do século XX. O choque entre Paulo Honório e Madalena em São Bernardo, de Graciliano Ramos, sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e a urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, o romance Angústia revela a solidão e a destruição de Luís da Silva, descendente da oligarquia, na teia complexa das relações citadinas. Aliás, este fenômeno ocorre igualmente em Totonho Pacheco, de João Alphonsus.
Por outro lado, tanto em A bagaceira, de José Américo de Almeida, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens principais, Lúcio e Conceição - embora filhos das velhas elites agrárias - foram modernizados pela escolarização na cidade e acabaram questionando o horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.
Romances de temática urbana
A urbanização ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se constituía, fosse sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos). Os núcleos temáticos abordados foram:
A) - As camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de Areia e Mar morto, de Jorge Amado; Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes.
B) - Os setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de Faria, Os ratos, de Dyonélio Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.
Um romance regionalista?
Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se o conceito de romance regionalista para indicar os relatos produzidos a partir de 30 (ou de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, e que inaugura o referido ciclo). Como este conceito continua aparecendo em todos os manuais, vestibulares e análises sobre a época, não podemos rejeitá-lo completamente.
Mas, como já se disse em outra passagem deste livro, não existe narrativa - mesmo a mais cosmopolita ou a mais intimista - que não tenha aspectos locais. Machado de Assis, por exemplo, apresenta elementos da sociedade carioca em suas histórias. Então o Rio de Janeiro não é uma região? Erico Verissimo seria regionalista ao escrever sobre as estâncias. E ao escrever sobre Porto Alegre seria o quê?
Ou seja, em vez de usarmos o desgastado termo regionalismo (que faz confusão entre geografia e estética), poderíamos nos valer de expressões que delimitam melhor o objeto de nossos estudos: narrativas do mundo rural e narrativas do mundo urbano.
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 Romance de 30
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CRONOLOGIA DOS PRIMEIROS ROMANCES DE 30
  • 1928 - A bagaceira, de José Américo de Almeida.
  • 1930 - O quinze, de Rachel de Queiroz; O país do carnaval, de Jorge Amado
  • 1932 - Menino de engenho, de José Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; João Miguel, de Rachel de Queiroz.
  • 1933 - Doidinho, de José Lins do Rego; Caetés, de Graciliano Ramos; Clarissa, de Erico Verissimo; Os Corumbas, de Amando Fontes.
  • 1934 - Bangüê, de José Lins do Rego; São Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de Jorge Amado.
  • 1935 - Jubiabá, de Jorge Amado; Música ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de Dyonélio Machado.

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