Tarsila do Amaral , a pintora que abrasileirou seus pinceis
Tarsila do Amaral é um das pintoras
mais conhecidas fora e dentro do Brasil. Suas obras sofreram uma influencia
direta do Movimento Modernista, tanto que foi considerada por muito como a “Dama
do Modernismo”. Tarsila foi uma personagem fundamental para a Primeira Fase do
Modernismo, seus quadros impulsionaram as reflexões em torno do Modernismo,
atraindo os olhares dos críticos da aépoca. O quadro brasileiro mais que existe
na atualidade foi ela que pintou, chama-se: Abaporu e foi a partir dele que
Oswald de Andrade criou a corrente Antropofágica.
Leia abaixo, assinta os vídeos e conheça um pouco mais desta fantástica pintura, que
soube abrasileirar seus pinceis.
Johniere Alves Ribeiro
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Tarsila do Amaral
“Eu invento tudo na minha
pintura. E o que eu vi ou senti, eu estilizo.”
Tarsila do Amaral foi uma
pintora e desenhista brasileira e uma das figuras centrais da pintura
brasileira e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de
Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico
nas artes plásticas.
Tarsila foi uma modernista:
pintou o Brasil, desrespeitou normas clássicas da pintura tradicional e encheu
suas telas de cores, muitas cores. Tarsila conseguiu traduzir em cores
vibrantes todas as sombras de um país.
Tarsila do amaral – Fotos
artista
País este que, segundo a visão
apurada e singular da pintora, também é caipira, interiorano, quase rústico.
País que Tarsila, em viagem feita a Minas Gerais, descobriu em pessoas, casas,
ruas e aridez. A artista não traz apenas a beleza exemplar brasileira, mas ao
contrário, denota suas silhuetas e contornos mais obscuros e, talvez por isso,
mais interessantes.
Um modelo clássico do que se
fala é sua obra mais conhecida, a pintura Abaporu. Neste quadro, segundo a
descrição da própria artista, “há uma figura solitária monstruosa, pés imensos,
sentada sobre uma planície verde, o braço dobrado repousando num joelho, a mão
sustentando o leve peso da minúscula cabeça. Em frente, um cactus explodindo em
uma enorme flor.”
Tarsila do Amaral foi a
representante do movimento Pau-Brasil que, subdividido nas fases construtivo,
exótico e metafísico/onírico, representa o cúmulo da brasilidade, traduzida não
somente em seus temas humanos e nacionais, como também nas cores vivas até
então rejeitadas por uma academia retrógrada e passadista.
Seus tons, de intensidade e
força absurdas, são reminiscências de infância da pintora nascida em Capivari,
interior de São Paulo. Desde então, Tarsila adota de forma quase que rebelde e
contestadora, cada colorido excessivo para, assim, melhor representar um
país-aquarela.
Engana-se, no entanto, quem
acredita ser Tarsila do Amaral uma pintora estritamente rural. Não. É ela, isso
sim, uma artista brasileira, modernista, bem-humorada, de nacionalidade
brasileira.
Tarsila do Amaral – Biografia
Tarsila do Amaral nasceu em 1
de setembro de 1886, no Município de Capivari, interior do Estado de São Paulo.
Filha do fazendeiro José Estanislau do Amaral e de Lydia Dias de Aguiar do
Amaral, passou a infância nas fazendas de seu pai. Estudou em São Paulo, no
Colégio Sion e depois em Barcelona, na Espanha, onde fez seu primeiro quadro,
‘Sagrado Coração de Jesus’, 1904.
Anos depois iniciou seus
estudos em arte. Começou com escultura, com William Zadig com quem aprende a
modelar. No mesmo ano, tem aulas com o escultor Mantovani. Seu aprendizado
continua no curso de desenho com Pedro Alexandrino em 1918, onde conheceu Anita
Malfatti. Posteriormente ela e alguns colegas do curso de Pedro Alexandrino
fazem aulas de pintura com Georg Elpons (1865-1939), que lhes apresenta
técnicas diferentes das acadêmicas, como a aplicação de cores puras,
diretamente do tubo. Em 1920, foi estudar em Paris, na Académie Julien e com
Émile Renard.
Estimulada pelo maestro Souza
Lima, parte para Paris em 1920. Quer entrar em contato com a produção européia
e aperfeiçoar-se. Ingressa primeiro na Académie Julian, depois tem aulas com
Emile Renard. Nesse período, trava contato com a arte moderna. Vê o que Anita
Malfatti já lhe havia contado. Conhece trabalhos de Pablo Picasso, Maurice
Denis e a produção dos dadaístas e futuristas. O interesse coincide com o
fortalecimento do modernismo em São Paulo. De longe, Tarsila recebe curiosa a notícia
dos progressos do grupo, na correspondência com Anita.
Em abril de 1922, dois meses
depois da Semana de Arte Moderna, volta ao Brasil para “descobrir o
modernismo”. Conhece Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia.
Com eles e Anita, funda o Grupo dos Cinco. O aprendizado europeu será digerido
aqui, no contato com o grupo. A artista pinta com cores mais ousadas e
pinceladas mais marcadas. Faz retratos de Mário de Andrade e Oswald de Andrade
com cores expressionistas e gestualidade marcada.
No ano de 1923, Tarsila
encontrava-se em Paris acompanhada do seu namorado Oswald. Conheceram o poeta
franco suíço Blaise Cendrars, que apresentou toda a intelectualidade parisiense
para eles. Foi então que ela estudou com o mestre cubista Fernand Léger e
pintou em seu ateliê, a tela ‘A Negra’. Léger ficou entusiasmado e até chamou
os outros alunos para ver o quadro. A figura da Negra tinha muita ligação com
sua infância, pois essas negras eram filhas de escravos que tomavam conta das
crianças e, algumas vezes, serviam até de amas de leite. Com esta tela, Tarsila
entrou para a estória da arte moderna brasileira. A artista estudou também com
Lhote e Gleizes, outros mestres cubistas. Cendrars também apresentou a Tarsila
pintores como Picasso, escultores como Brancusi, músicos como Stravinsky e Eric
Satie. E ficou amiga dos brasileiros que estavam lá, como o compositor Villa
Lobos, o pintor Di Cavalcanti, e os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes
Penteado.
Em uma homenagem a Santos
Dumont, usou uma capa vermelha que foi eternizada por ela no auto-retrato
‘Manteau Rouge’, de 1923.
Retorna para o Brasil em 1924
com interesse voltado para as coisas daqui. Viaja para conhecer o carnaval
carioca e as cidades históricas de Minas Gerais. Tarsila disse que foi em Minas
que ela viu as cores que gostava desde sua infância, mas que seus mestres
diziam que eram caipiras e ela não devia usar em seus quadros. ‘Encontei em
Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e
caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas:
o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, …’
E essas cores tornaram-se a
marca da sua obra, assim como a temática brasileira, com as paisagens rurais e
urbanas do nosso país, além da nossa fauna, flora e folclore. Ela dizia que
queria ser a pintora do Brasil.
E esta fase da sua obra é
chamada de Pau Brasil, e temos quadros maravilhosos como ‘Carnaval em
Madureira’, ‘Morro da Favela’, ‘EFCB’, ‘O Mamoeiro’, ‘São Paulo’, ‘O Pescador’,
dentre outros.
Em 1926, Tarsila fez sua
primeira Exposição individual em Paris, com uma crítica bem favorável. Neste
mesmo ano, ela casou-se com Oswald (o pai de Tarsila conseguiu anular em 1925 o
primeiro casamento da filha para que ela pudesse se casar com Oswald).
Washington Luís, o Presidente do Brasil na época e Júlio Prestes, o Governador
de São Paulo na época, foram os padrinhos deles.
Em janeiro de 1928, Tarsila
queria dar um presente de aniversário especial ao seu marido, Oswald de
Andrade. Pintou o ‘Abaporu’. Quando Oswald viu, ficou impressionado e disse que
era o melhor quadro que Tarsila já havia feito. Chamou o amigo e escritor Raul
Bopp, que também achou o quadro maravilhoso. Eles acharam que parecia uma
figura indígena, antropófaga, e Tarsila lembrou-se do dicionário Tupi Guarani
de seu pai. Batizou-se o quadro de Abaporu, que significa homem que come carne
humana, o antropófago. E Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e fundaram o
Movimento Antropofágico. A figura do Abaporu simbolizou o Movimento que queria
deglutir, engolir, a cultura européia, que era a cultura vigente na época, e
transformá-la em algo bem brasileiro.
Outros quadros desta fase
Antropofágica são: ‘Sol Poente’, ‘A Lua’, ‘Cartão Postal’, ‘O Lago’,
‘Antropofagia’, etc. Nesta fase ela usou bichos e paisagens imaginárias, além
das cores fortes.
A artista contou que o Abaporu
era uma imagem do seu inconsciente, e tinha a ver com as estórias de monstros
que comiam gente que as negras contavam para ela em sua infância. Em 1929
Tarsila fez sua primeira Exposição Individual no Brasil, e a crítica
dividiu-se, pois ainda muitas pessoas ainda não entendiam sua arte.
Ainda neste ano de 1929, teve a
crise da bolsa de Nova Iorque e a crise do café no Brasil, e assim a realidade
de Tarsila mudou. Seu pai perdeu muito dinheiro, teve as fazendas hipotecadas e
ela teve que trabalhar. Separou-se de Oswald.
Na mesma época, ocupa, por um
curto período, a direção da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp). Viaja
para a União Soviética no ano seguinte e expõe em Moscou. A partir de 1933, seu
trabalho ganha uma aparência mais realista.
Influenciada pela mobilização socialista, pinta quadros como Operários (1933) e 2ª Classe (1933), preocupados com as mazelas sociais.
Em meados dos anos 30, Tarsila uniu-se com o escritor Luís Martins, mais de vinte anos mais novo que ela. Ela trabalhou como colunista nos Diários Associados por muitos anos, do seu amigo Assis Chateaubriand.
Influenciada pela mobilização socialista, pinta quadros como Operários (1933) e 2ª Classe (1933), preocupados com as mazelas sociais.
Em meados dos anos 30, Tarsila uniu-se com o escritor Luís Martins, mais de vinte anos mais novo que ela. Ela trabalhou como colunista nos Diários Associados por muitos anos, do seu amigo Assis Chateaubriand.
Nessa época, seus quadros
ganham um modelado geométrico. As cores perdem a homogeneidade e tornam-se mais
porosas e misturadas. Em 1938, recupera a propriedade, retorna à São Paulo e
sua produção volta à regularidade. Reaproxima-se de questões que animaram o
período heróico do modernismo brasileiro. A partir da segunda metade dos anos
de 1940, as inquietações do período pau-brasil e da antropofagia são
reformuladas, os temas rurais voltam de maneira simples. Em algumas telas, como
Praia (1947) e Primavera (1946), as figuras agigantadas evocam o período
antropofágico, mas agora aparecem sob forma mais tradicional, com passagens
tonais de cor e modelado mais clássico.
Em 1950, ela voltou com a
temática do Pau Brasil e pintou quadros como ‘Fazenda’, ‘Paisagem ou Aldeia’ e
‘Batizado de Macunaíma’. Em 1949, sua única neta Beatriz morreu afogada,
tentando salvar uma amiga em um lago em Petrópolis.
Em 1950, é feita a primeira
retrospectiva de seu trabalho, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP).
A exposição dá mais prestígio à artista, nela as pinturas da fase “neo
pau-brasil” são mostradas pela primeira vez. O retorno a temas nacionais anima
Tarsila a pintar dois murais de forte sentido patriótico. Em 1954, termina
Procissão do Santíssimo , encomendado para as comemorações do IV Centenário da
Cidade de São Paulo. Dois anos depois, entrega O Batizado de Macunaíma, para a
Editora Martins. Em 1969, a crítica de arte Aracy Amaral organiza duas
importantes retrospectivas do trabalho de Tarsila. Uma no Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e outra no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). As mostras consolidam sua importância para
a arte brasileira. Tarsila faleceu em janeiro de 1973.