sexta-feira, 3 de agosto de 2012

POESIA PARAIBANA- Linaldo Guedes

Estou tentando apresentar para vocês alguns dos principais poetas e escritores da Literatura Paraibana ainda em atividade. Acredito que é importante conhecer a “prata da casa”.
O primeiro a desfilar por aqui é Linaldo Guedes, poeta radicado na capital, mas que tem sua origem no sertão paraibano.
Seu último livro “Metáforas para um duelo no Sertão”,  pela Editora Patuá, de São Paulo ( 2012), são 106 poemas inéditos e tem prefácio de Antonio Mariano.
Olivro pode ser comprado no site www.editorapatua.com.br.
             Johniere Alves Ribeiro  
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Quem é Linaldo Guedes?
CURRICULUM VITAE

FORMAÇÃO ACADÊMICA:

Escola Estadual de 1º Grau Dr: José Medeiros Vieira, João Pessoa/PB (conclusão do ensino fundamental), dezembro de 1982;
Escola Estadual Professor Pedro Augusto Porto Caminha, João Pessoa/PB (conclusão do ensino médio), dezembro de 1985;
Curso Superior de Licenciatura em Letras, da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cajazeiras, em 1987/1988 (sem conclusão);
Curso Superior de Bacharelado em Comunicação Social, da Universidade Federal da Paraíba, campus de João Pessoa, 1990-1992 (sem conclusão);
LIVROS LANÇADOS:“Os zumbis também escutam blues e outros poemas” (livro de poemas), Editora Textoarte, João Pessoa/PB, 1998;
Coletânea de Poesia: 50 anos do Correio das Artes (org.) - Editora Universitária/UFPB, João Pessoa/PB, 1999;
Coletânea de Contos: 50 anos do Correio das Artes (org.) - Editora A União, João Pessoa/PB, 1999;
“Augusto dos Anjos” (plaquete) – Coleção Paraíba Nomes do Século, Série Histórica, nº 38, Editora A União, João Pessoa/PB, 2000;
“Diálogos” (org) – Seleção de entrevistas publicadas no Correio das Artes do jornal A União em 2003, Editora Aboio, João Pessoa/PB, 2004;
“Intervalo Lírico” (livro de poemas) – Editora Dinâmica, Coleção Tamarindo, João Pessoa/PB, 2005;
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Degustação de dois poemas de Linaldo Guedes


Cárcere Ideológicoa liberdade
repousa num sono secundário
entre o lado canhoto da vaidade
e o beco sujo de uma rua sem poesia

para despertá-la de sua hibernação
é preciso
(primeiro)
limpar a sujeira da vaidade
(depois)
cantar hinos de louvor numa cela sem grades.
( Linaldo Guedes)

A flor e o espinhoo amor
o amor

- todos os caminhos
levam à dor

quando o teu cheiro sobra
ou o prazer vai embora
é do amor que falamos
é a dor que escondemos

num caso
falta o pedaço necessário
para se chegar ao paraíso

em outro
sobra o dicionário
para tentar explicar o sumiço da flor.

( Linaldo Guedes)

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Duelo entre o real e o imaginário no novo livro de Linaldo Guedes

Ronaldo Braga

A poesia de Linaldo Guedes é um grito carinhoso que continua mais forte no seu silencio, que nos pergunta o tempo todo sobre organização e alma, sobre vida e acordo, poesia que é um solapo em nossa quietude e ler “Metáforas para um duelo no sertão do poeta” Linaldo Guedes  nos permite um momento onde a quietude não é uma calmaria antes é uma necessidade de sobrevivência, pois é preciso depois da leitura fechar o livro e organizar o turbilhão de imagens, de buscas, de caminhos que de forma firme e duradoura ocupam nosso cérebro. 

Há e sempre houve muitos duelos no sertão, o sangue brota de peitos lacerados e cabeças erguidas, e o poeta  da Paraíba, nos revela um outro duelo dentro de todos os duelos sertanejos, o duelo que marca a fronteira entre o real e o imaginário, entre a escolha e o imposto, entre o ser e o nada, um duelo travado na fome que não nos devora e sim nos impulsiona como fortes para caminhar entre espinhos e sedes, a fome que  é o caminhar,  o viver entre nuvens de ideias e poucas certezas, a fome que nos mantém vivos.

É, portanto, desta fome que trata o livro do poeta Guedes, uma fome bela e que no sertanejo às vezes coberta como poeira por outras fomes pode nos aparentar fracos ou mesmo vitimas. E  a poesia de Linaldo não tem  a dor do fracasso ou da vingança, mas a serenidade da percepção que a vida sofre mas também é uma festa, é uma espera e é sempre uma luta dentro de muitas outras lutas. 

"meu pai sorriu
à sombra da goiabeira

nada de rugas na face
apenas a névoa
de um tempo escondido pela sombra das horas."

O passado na figura do pai é de uma melancólica e doce  lembrança, não no sofrimento, mas na névoa que reescreve o rosto na falta de rugas e numa sombra, a da goiabeira, uma outra faz suave e sábio o nosso existir, o das horas.

E enfrentando a religião sem raivas e sem medos ele afirma:

"matraca silenciosa
liturgia de augusto
remoendo
moendo
doendo
moenda
- bagaço de homem no altar dos sertões".

E o poeta Linaldo Guedes brinca com sua infância, seu crescer, sua família e entre alegrias e descobertas ele afirma a sadia desavença entre idades e sexos no ninho, que é um pouco revelado na sombra da goiabeira, salta agora em Lili, em Deci, Didi, Laura, em Laudeni, na galega Neném e se junta na rede com o pai, embalado em natais onde a família tocaiava sonhos de olho no alpendre, pois sabedor que 

"liturgia de oração
- negação do jejum do prazer"

Linaldo declara:

"nunca conseguira entender a falta de pão"

Pois é com poesia que o poeta enfrenta dores e calúnias

"sou um homem marcado
marcado para doer
gado preso no curral
quando não, abatido
comendo Baudelaire
na erva daninha de meu capim."

E continua caminhando por entre fantasmas  nas brincadeiras de muitas humanidades, fazendo duelar os medos dos 12 anos, bumba meu boi  e sombras na parede, com a dura realidade do homem quarentão que nada teme, mas

"tanto medo aos 12
aos 40, medo só de seu olhar de graúna"

Linaldo Guedes não vive por ai afirmando sua sertanidade, antes universal sabe das necessidades de superar mitos e vencer etapas 

"cansei de pasárgada
este negócio de sentar-se eternamente no trono
não compensa a mulher que queremos"

Podemos então arriscar que “Metáforas para um duelo no sertão” do poeta paraibano LINALDO GUEDES, publicação da editora Patuá é não um mergulho no próprio umbigo do poeta, mas sim a afirmação da vida com toda a dor e o prazer que tem no fato de viver e que também soa este livro como uma canção que pode ser  um grito forte saudando nossas fomes e um esperançoso desejo de duelar.

Recomendo a leitura de “Metáforas para um duelo no sertão”, que com certeza vai abrir horizontes e permitir o deleite do belo numa terra árida e fazer plainar azedumes em dias de fugas, Um livro com um coração repleto de amores e fomes e sempre um coração decidido.

Ronaldo Braga é poeta baiano.

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