domingo, 29 de julho de 2012

O analfabeto do futuro

Ao ler o texto “O analfabeto do futuro” fiquei impactado com a força das palavras utilizadas por sua autora. É um texto que trata da mais pura realidade de nosso país, mesmo boa parte da mídia oficial afirmar que não.
Por tanto, leia e tire suas próprias conclusões...

Johniere Alves Ribeiro



O analfabeto do futuro

Competitividade, globalização e empregabilidade são expressões repetidas como palavras de ordem. Porém, o seu real significado está distorcido pele banalização do uso. A base de todo o movimento de mudanças que essas palavras representam é a competência, que precisa ser vista como a habilidade de realizar.
Estamos, em pleno século 21, travando uma luta contra o analfabetismo, a exclusão social e a desigualdade. Contudo, é preciso notar que a própria evolução competitiva dá uma nova proporção a essas dificuldades. No início do século passado, a alfabetização era a condição de o indivíduo escrever seu próprio nome. Hoje, ela exige uma competência mais complexa. É preciso, em uma folha de papel, saber exprimir idéias com coerência e fluidez.
Por esse critério, podemos perceber que o problema do analfabetismo brasileiro é mais grave do que supúnhamos. Temos recém-formados que não passariam sequer num teste de redação. Quer dizer, temos analfabetos acadêmicos com nível universitário. Afinal, qual o valor de se desenvolver uma boa redação? Não é pela tarefa em si, mas pelo que representa em termos de raciocínio e capacidade de argumentação. Quando acompanhamos na mídia o embate entre países pela regulamentação do comércio internacional, não estamos vendo uma disputa baseada em números contábeis ou em classificações matemáticas. Estamos, sim, assistindo a um verdadeiro duelo de idéias, que precisam de mentes treinadas para elaborar argumentos e expressá-los com eloqüência.
Enquanto embaixadores, negociadores e empresários se engalfinham em retóricas comerciais, nós também temos de desenvolver raciocínios comerciais mais bem elaborados e dar para nossas idéias uma argumentação que lhes permita aceitação e implementação. Em síntese, dominar a mesma técnica necessária para elaborar uma boa redação.
Parece estranho que nosso sucesso comercial como nação dependa da habilidade dos cidadãos em desenvolver uma boa redação, mas não se trata apenas da formação de literatos. Trata-se do domínio da tecnologia do pensar, do expressar, do compartilhar. A era das guerras físicas chega ao fim, mesmo com conflitos sangrentos. Os confrontos deste século serão cada vez mais intelectuais. O predomínio da mente sobre a força bruta.
Nessa nova arena, a quantidade perde terreno para a qualidade. Não se contarão vitórias pelo número de alfabetizados, mas pela habilidade dessas pessoas em dominar as técnicas para compor e expressar idéias. Já superamos a Era do Conhecimento, na qual o acúmulo do saber era o diferencial competitivo. Estamos vivendo a Era da Cultura, na qual fará diferença a habilidade para selecionar o conhecimento de maior valia para determinado episódio.
Nessa esfera, a educação, que sempre foi apregoada como o meio para mudar o destino do país, passa a ser insumo de primeira necessidade. Deveríamos colocá-la entre os artigos da cesta básica do trabalhador brasileiro. Deveríamos fazer mutirões de educação e espalhar o conhecimento como quem distribui o pão a quem tem fome. E, para eliminar a fome, teríamos de alimentar o saber.
Entre a necessidade de assinar o nome e a urgência em dominar a redação, passaram-se 100 anos. Para darmos o salto em direção à elaboração de teses científicas para a competitividade do país, não teremos sequer uma década. Estamos vivendo muitos mundos simultâneos, nos quais as eras agrícola, industrial e comercial se sobrepõem. O desafio é fazer desse caldeirão um ambiente de aprendizagem, um laboratório de experiências, uma tribuna de diálogo e um campo de atuação da vanguarda.
Para isso, precisamos investir no desenvolvimento intelectual de nossos jovens. Precisamos de gente preparada para observar, conceber, desenvolver e exprimir idéias com desenvoltura e conhecimento. Precisamos de gente que, em uma simples redação, seja capaz de fazer a narrativa que irá contar a história do futuro.

                            (MAGALHÃES, Dulce. O analfabeto do futuro. In: Revista Amanhã, p.74)   

     

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