terça-feira, 14 de agosto de 2012

JOVENS MAIS PRÓXIMOS DE MACHADO DE ASSIS

Machado de Assis continua surpreendente mesmo após tanto anos de sua escrita. O obra imortal  do "Bruxo do Cosme Velho" ainda nos repensar a realidade e hipocrisia da sociedade de sua época e de hoje.
 Nesse sentido, veja o que Rafael Cortez escreve sobre o auto.
Johniere Alves
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Sobre a Bienal do Livro e Machado de Assis
Por Rafael Cortez – 

Mais uma Bienal do Livro acontecendo na cidade de São Paulo. Mais uma vez, os protagonistas são os livros, seus autores e leitores insaciáveis. Gosto bastante disso. Respeito e tenho muita admiração por eventos que partem da Literatura e reforçam a importância da leitura para todas as idades. É como um sinal de salvação em tempos tão burros de internet e entretenimento barato.
Todo e qualquer evento literário me faz reforçar meu carinho por Machado de Assis. Sou, de fato, um grande fã desse imortal autor. Ele me deu muitas alegrias ao longo de toda minha vida, ainda que o processo de conhecer sua obra na minha infância tenha sido tão penoso. Machado era inteligente demais para minha geração já preguiçosa. Aliás, Machado é acima da média para a maior parte de nós.
Recordo de um episódio na Bienal do Livro anterior. Eu participava de um debate com adolescentes quando disse, para um auditório lotado, que as crianças acham o Machado de Assis chato quando o conhecem em meio à obrigatoriedade de sua leitura: ele vale nota, ele cai na prova e ele é muito difícil. Depois, os adolescentes voltam a ter esse problema: Machado cai na Fuvest, é do vestibular, vale como parte do passaporte a uma universidade e vida de prestígio.
Lembro que um professor estava presente na plateia. Ele me procurou depois e disse ter ficado muito chateado comigo por ter dito isso. Alertou-me para o fato de que sou formador de opinião, sou jornalista, e que posso criar imagens erradas do autor. Fora que tal depoimento poderia ser encarado como algo um tanto ingrato de minha parte — taxar de chato o autor que tanta coisa me deu (incluindo meus audiolivros)... não pode!
Eu perguntei ao professor em questão: estou mentindo?
De fato, não sei como é hoje nas escolas de Ensino Fundamental. O ideal é que, antes mesmo de recomendar o início da leitura de qualquer uma das obras do Machado, os professores dêem uma introduzida no autor. Seria bom receber uma aula "pré-Machado" antes de mergulhar em seus textos. Garanto que isso despertaria maior interesse por parte de futuros leitores e fãs em potencial... fora que isso minimizaria alguns problemas de compreensão e contextualização de sua escrita.
Bem, o fato é que quando fui ler "Dom Casmurro", ninguém me preparou para nada. Ninguém me situou sobre o contexto brilhante de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Tá certo que meu colégio era uma porcaria, mas isso aconteceu. Eu tive de aprender a ler Machado de Assis praticamente sozinho, mais tarde, mais calejado e mais instruído.
Hoje, com quase 36 anos, uma parte de mim se volta aos audiolivros — uma forma de aproximar a molecada de clássicos da Literatura que podem, com esse trabalho de registro em áudio, ser vistos de outra maneira. Vai que algum jovem que realmente goste de mim se empolgue? O fato de conhecer um livro do Machado na minha voz pode ser um passaporte para um novo encontro com outra obra do mesmo autor, ou de outro igualmente notável... Vai que..
Já gravei quatro obras do Machado em audiolivro. E uma do José Mauro de Vasconcellos. Meu desafio ainda é o Machado de Assis. Queria muito que ele fosse aceito como o gênio que sempre foi; e não tido como um chato difícil de ler por parte da molecada. Com meus audiolivros, faço a minha parte na tentativa de quebrar essa premissa burra. Ao mesmo tempo em que me deleito com mais uma Bienal do Livro. Recomendo que façam o mesmo!

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