Segue mais um texto de Bráulio, escritor paraibano. Nele temos uma
reflexão sobre a escrita, também há dicas sobre o pensar/escrever/ e
escrever/pensar.
Leia e comente
Johniere Alves ribeiro
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Publicado em 20/06/2013 às 08:00h, por Bráulio Tavares.
Os neurocientistas
afirmam (http://bit.ly/10GJfrT) que quando a gente escreve estimula mais áreas
do cérebro (lobo frontal, lobo parietal, sistema de ativação reticular, etc) do
que quando está apenas lendo, ouvindo ou falando. O ato de escrever a mão ou
num teclado mobiliza diferentes áreas motoras e sensoriais. E isso contamina o
que se passa pela nossa mente. Por isso se diz aos escritores profissionais:
não fique pensando, escreva; não fique só imaginando, escreva; não queira ter a
história toda pronta na cabeça antes de escrever. Porque quando chegar o ato de
escrever, você vai estar pensando, em termos práticos, com um cérebro mais
amplo do que o cérebro que pensava antes. Treino é treino, e jogo é jogo.
Não sei quanto aos
cientistas, mas como escritor eu vejo assim. Digamos que você está escrevendo
uma história de um casal que, viajando à noite numa estrada deserta, tem um problema
no motor do carro. Discutem --- devem esperar socorro? Sair andando à procura
de uma casa próxima? Se eu estou deitado na rede imaginando a cena, tudo fica
num plano vagamente mental de imagens visuais superpostas, antes, depois,
fragmentos de diálogos semi-imaginados, ocupando uma área relativamente
limitada do cérebro. Mas é diferente se enquanto imagino a cena total eu estou
escrevendo.
“—Puxa vida, disse Sandra, você quer que a gente saia andando nesse escuro? – Meu amor, disse Fernando, melhor do que ficarmos aqui no carro, numa estrada onde não passa ninguém, porque na última meia hora a gente não ultrapassou nenhum carro. – Mas é uma estrada, disse Sandra, cedo ou tarde vai passar alguém. Mas quando ela disse isso Fernando já tinha partido a passos largos, e ela, mesmo engolindo a raiva, tirou as sandálias altas e o seguiu”.
“—Puxa vida, disse Sandra, você quer que a gente saia andando nesse escuro? – Meu amor, disse Fernando, melhor do que ficarmos aqui no carro, numa estrada onde não passa ninguém, porque na última meia hora a gente não ultrapassou nenhum carro. – Mas é uma estrada, disse Sandra, cedo ou tarde vai passar alguém. Mas quando ela disse isso Fernando já tinha partido a passos largos, e ela, mesmo engolindo a raiva, tirou as sandálias altas e o seguiu”.
Escrever isso ativa
(através das mãos e dos olhos) centros motores que não são ativados pelo mero
devaneio, e daí começa um feedback em que esses centros começam a xeretar o
texto e dar palpite. O diálogo acima foi improvisado agora, em meio minuto; eu
pensava em escrever apenas as falas, e de repente me vi fazendo Fernando meter
o pé na estrada e a mulher segui-lo, com esse detalhe que eu não antevira (mas
para mim plausível) de tirar as sandálias de salto alto.
Envolver o corpo na
escrita é um segredo que alguns resolvem ditando em voz alta para um gravador
ou uma secretária; outros, escrevendo em pé (Hemingway), outros escrevendo à
mão num caderno; outros, usando a máquina de escrever como se fosse um piano de
ragtime. Falar em voz alta. Gesticular. Caminhar pelo escritório. Ativar os
cinco sentidos, a percepção especial, a coordenação motora. Eles nos ajudam a
imaginar melhor.
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