terça-feira, 25 de junho de 2013

“Autoridades são zumbis?” - O que está por trás dos protestos no Brasil


“Autoridades são zumbis.”
 
Acredito que este seria um título interessante para o texto que segue, escrito por Bráulio Tavares, mas não posso mudar oque sua inteligência já blindou e publicou. Contudo, acredito que se não posso mudar o título do seu  texto com esta frase, mas indicaria a mesma como um resumo bem feito do seu artigo. E como a frase acima é parte integrante do seu texto, diria que “metalinguísticamente”  tal período reflita bem a realidade do que ocorre hoje pelas ruas do Brasil.
Desse modo, leia o texto conciso de Bráulio que -  coincidência ou não traz um BRA em seu nome -,  nos apresenta uma radiografia dos protestos recentes em nosso país.
 
Johniere Alves ribeiro
 
 
 
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Bráulio Tavares ( O colunista é escritor, compositor, estudou cinema e é pesquisador de literatura fantástica. Contato com o colunista: btavares13@terra.com.br )

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Publicado em 21/06/2013 às 08:00h;  por Bráulio Tavares, no Jornal da Paraíba.

Movimentos políticos de rua têm de tudo. Jovens preocupados com o futuro do país em que viverão um dia suas velhices (pensem nisto agora, amigos). Velhos relembrando os bons tempos da “revolução no ar”. Baderneiros e vândalos. Hippies, hipsters, ripongas, ripadores de animê. Tímidos que jamais soltariam um berro daqueles na Av. Rio Branco se estivessem sozinhos. Agentes de extrema-direita e de extrema-esquerda infiltrados. Gente descontente com os partidos. Militantes ingênuos para quem o único partido sem políticos corruptos é o seu.

Muitos que estão ali são meros curiosos, satisfeitos em participar de um momento fora do comum, porque terão uma história para contar no dia seguinte: “Olha, ninguém me disse: eu estava lá...”. Entre aquelas dezenas que erguem cartazes e faixas, você vai encontrar lado a lado duas pessoas que, se parassem para acertar os ponteiros, passariam quatro anos discutindo sem chegar a um denominador comum. Mas erguem os cartazes, protestam, cantam hino, andam lado a lado, e cada um deles acredita que está indo na direção certa. Podem até estar.

Manifestação tem skinhead, aposentado, marqueteiro, universitário jubilado, balconista, comerciante, batedor de carteira, vendedor de picolé, trotskista, keynesiano, sadomasoquista, evangélico, flanelinha. Tem modelo-e-atriz, manicure, perua, piranha, filhinha da mamãe, filhinha do papai, socialite, socióloga, feminista, doméstica, filósofa, poetisa, cobradora de ônibus. Todos tentam, num momento assim, encontrar um movimento coletivo que lhes dê a sensação de serem um só, sem ao mesmo tempo desbastar as arestas de individualidade que os definem.

Em toda manifestação alguém vai depredar um prédio público ou um banco particular. Alguém vai queimar latas de lixo ou carros estacionados. Se a manifestação fizesse isso o tempo inteiro, ia se desmoralizar. Mas (vejam só as ironias da nossa civilização!) os carros incendiados e as vidraças partidas doem mais fundo nas autoridades do que as palavras de ordem ou as reivindicações ordeiras. Autoridades são zumbis. Enquanto puderem fazer de conta que estão mortas, fá-lo-ão. Um milhão de vozes bradando uma queixa justa podem ser ignoradas; mas a pira de labaredas consumindo símbolos civilizatórios como carros ou placas da Fifa é algo que os horroriza na sua medula mais íntima. Eles veem que o Poder não os blinda por completo, e que para aquela multidão nem o que é mais sagrado merece respeito. E em homenagem a esse símbolo sacrificado em holocausto (“Queimaram carros! Por que não queimam um sem-teto?!”) eles admitem que a Rua é real. E sentam para negociar.

 

 

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