“Autoridades são zumbis.”
Acredito que este seria um título interessante para o texto que segue,
escrito por Bráulio Tavares, mas não posso mudar oque sua inteligência já blindou
e publicou. Contudo, acredito que se não posso mudar o título do seu texto com esta frase, mas indicaria a mesma
como um resumo bem feito do seu artigo. E como a frase acima é parte integrante
do seu texto, diria que “metalinguísticamente” tal período reflita bem a realidade do que
ocorre hoje pelas ruas do Brasil.
Desse modo, leia o texto conciso de Bráulio que - coincidência ou não traz um BRA em seu nome -, nos apresenta uma radiografia dos protestos
recentes em nosso país.
Johniere Alves ribeiro
Bráulio Tavares ( O colunista é escritor, compositor,
estudou cinema e é pesquisador de literatura fantástica. Contato com o
colunista: btavares13@terra.com.br )
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Publicado em 21/06/2013 às 08:00h; por Bráulio Tavares, no Jornal da Paraíba.
Movimentos políticos de rua têm de
tudo. Jovens preocupados com o futuro do país em que viverão um dia suas
velhices (pensem nisto agora, amigos). Velhos relembrando os bons tempos da
“revolução no ar”. Baderneiros e vândalos. Hippies, hipsters, ripongas,
ripadores de animê. Tímidos que jamais soltariam um berro daqueles na Av. Rio
Branco se estivessem sozinhos. Agentes de extrema-direita e de extrema-esquerda
infiltrados. Gente descontente com os partidos. Militantes ingênuos para quem o
único partido sem políticos corruptos é o seu.
Muitos que estão ali são meros
curiosos, satisfeitos em participar de um momento fora do comum, porque terão
uma história para contar no dia seguinte: “Olha, ninguém me disse: eu estava
lá...”. Entre aquelas dezenas que erguem cartazes e faixas, você vai encontrar
lado a lado duas pessoas que, se parassem para acertar os ponteiros, passariam
quatro anos discutindo sem chegar a um denominador comum. Mas erguem os
cartazes, protestam, cantam hino, andam lado a lado, e cada um deles acredita
que está indo na direção certa. Podem até estar.
Manifestação tem skinhead,
aposentado, marqueteiro, universitário jubilado, balconista, comerciante,
batedor de carteira, vendedor de picolé, trotskista, keynesiano,
sadomasoquista, evangélico, flanelinha. Tem modelo-e-atriz, manicure, perua,
piranha, filhinha da mamãe, filhinha do papai, socialite, socióloga, feminista,
doméstica, filósofa, poetisa, cobradora de ônibus. Todos tentam, num momento
assim, encontrar um movimento coletivo que lhes dê a sensação de serem um só,
sem ao mesmo tempo desbastar as arestas de individualidade que os definem.
Em toda manifestação alguém vai
depredar um prédio público ou um banco particular. Alguém vai queimar latas de
lixo ou carros estacionados. Se a manifestação fizesse isso o tempo inteiro, ia
se desmoralizar. Mas (vejam só as ironias da nossa civilização!) os carros
incendiados e as vidraças partidas doem mais fundo nas autoridades do que as
palavras de ordem ou as reivindicações ordeiras. Autoridades são zumbis.
Enquanto puderem fazer de conta que estão mortas, fá-lo-ão. Um milhão de vozes
bradando uma queixa justa podem ser ignoradas; mas a pira de labaredas
consumindo símbolos civilizatórios como carros ou placas da Fifa é algo que os
horroriza na sua medula mais íntima. Eles veem que o Poder não os blinda por
completo, e que para aquela multidão nem o que é mais sagrado merece respeito.
E em homenagem a esse símbolo sacrificado em holocausto (“Queimaram carros! Por
que não queimam um sem-teto?!”) eles admitem que a Rua é real. E sentam para
negociar.
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