Littera e etc, é um blog que tem como objetivo apresentar informações do "mundo das letras" ( Literatura e Produção Textual) como também fazer ponte com outras áreas do conhecimento e apresentar assuntos da atualidade.
Por isso, aproveite nossas informações, comente-as e nos mande dicas para melhorar.
Johniere Alves Ribeiro
Assista uma vídeo aula com 10 dicas importantes para produzir um bom texto dissertativo-argumentativo. Preste atenção e procure colá-las em prática. Até uma próxima postagem !
Olá pessoal, sabemos que produzir textos não é uma
tarefa fácil. Contudo, não é impossível, a um aluno do Ensino Médio, prestes a
se submeter a um exame avaliativo (como o ENEM) escrever com qualidade trinta
linhas. Para isto, faz-se necessário o conhecimento sobre as principais
técnicas de escrita, uma boa bagagem de informações – acumuladas ao longo da
vida estudantil, por exemplo -; mas, acima de tudo, escrevendo. POIS NÃO HÁ FORMAS OU FÓRMULAS PARA ESCREVER, o que faço aqui é apenas indicar caminhos, nem sempre veredas simples para se trilhar, mas lembre-se: escrever é preciso.
Assim, é importante estar conectado com o cotidiano,
para “engrossar” sua argumentação. Por isso, procure ficar bem atualizada e com
boas informações sobre o que acontece a sua volta.
Daí é importante construirmos pontes para que a
escrita possa acontecer com menos traumas. Para tentar desmitificar o monstro
da “redação escolar”, apresentando a escrita como algo dinâmica e que faz parte
do nosso cotidiano. Como afirma Coimbra GUEDES ( 1999):
“(...) ensinar a escrever começa pela criação de condições para que os
alunos produzam textos – texto circula pela cidade – e não apenas em situações
escolares, que se confinam em sala de aula. Texto agente escreve para leitores;
redação escolar a gente esconde no meio
daquela pilha em cima da mesa do professor. Texto agente escreve a
partir dos palpites dos colegas e do
professor...” (GUEDES, 1999, p.14)
Neste contexto
é fácil observar que a produção de um texto deve ir além das quatro paredes da
sala de aula. Mesmo tendo sido produzido no interior destas, o aluno deve
entender que não escreve seu texto para o “professor de redação”, todavia ele
deve ter em mente que a escrita é interligada a um conjunto de ações e atitudes
que o impulsionou a escrever. E que na ponta da produção há um leitor pronto
para ler o que foi escrito
Diante disto, vejamos as dicas de
Suzana Luz sobre esta questão:
“Não se
trata de uma receita, mas o caminho da produção textual eficiente passa pelos
seguintes requisitos:
1 – O produtor do texto deve ter convicção do que quer transmitir em seu texto:
Qual seu objetivo? Que ideia pretende defender? Quais argumentos ele vai usar
para convencer o leitor?
2 – Deve determinar que tipo de texto, ou melhor, qual gênero textual vai ser o
mais adequado para atingir os objetivos traçados. Uma dissertação, uma carta,
uma narrativa?
3 – O produtor deve adequar o nível de linguagem que será utilizado no texto. É
aconselhável se perguntar: Quem é o leitor imediato? Qual nível de linguagem
será empregado: mais culto ou mais coloquial?
4 – Os problemas gramaticais que interferem na clareza textual devem ser
corrigidos, em um primeiro momento, por um profissional competente;
posteriormente, pelo próprio produtor.
Quanto a essa última observação, é claro que se requer um treino mais constante
ainda, já que não é tarefa fácil corrigir o próprio texto. Tal atividade passa
pela construção de um saber gramatical pouco explorado atualmente nas escolas.
Ocorre que, enquanto a gramática for objeto de estudo em si e por si,
isoladamente, ela acaba não sendo incorporada pelos alunos e é pouco utilizada
no momento da produção textual. Assim, o ideal é que haja nas escolas a
“gramática aplicada ao texto”.
Após essa explanação, convém retomar o conteúdo da matéria divulgada pela
FOVEST e ressaltar, mais uma vez, que redigir constantemente é o que faz o
produtor ser eficiente. Afinal, não há nenhum diploma de escritor, não é mesmo?
O que há, sim, é uma prática tão constante quanto à revisão a que deve estar
submetido um texto.
Por fim, ainda tenho o dever de reafirmar categoricamente: não se nasce
escritor, não há um dom inato, não há magia na produção textual. Esta
habilidade nasce, desenvolve-se e se aprimora paulatinamente, com esforço,
dedicação e repetição de quem se propõe a escrever.” ( SUZANA LUZ)
Leia um pouco mais sobre o modo
como se pode fazer uma boa produção textual.
Uma boa
redação pode fazer a diferença entre ser e não ser aprovado no Enem. Para que o
candidato produza um texto eficiente no exame, são necessários pelo menos três
requisitos.
-
Primeiro, é preciso ter um razoável nível de informação. Não há como escrever
sobre determinado tema se nada se conhece a respeito dele. Quem não tem o que
dizer, diz da pior maneira possível.
- Segundo, é necessário estar bem treinado. Espera-se que o aluno, ao longo dos
últimos meses, tenha escrito pelo menos uma redação por semana. A produção
contínua cria familiaridade com o uso das palavras e aprimora a técnica de
elaborar períodos e parágrafos.
- Terceiro, é imprescindível ficar atento às competências que serão avaliadas.Para isso o candidato deve ler o"Guia do Participante: A Redação no Enem 2013",
disponível no site do Inep.O
guia foi elaborado com o intuito de "esclarecer os critérios adotados no processo de avaliação
das redações" e detalha o que se espera do candidato em cada competência.
Vale a pena lembrar que o primeiro
requisito se relaciona estreitamente com ogênero
textualpedido no concurso --
o dissertativo-argumentativo. Aqui os dois adjetivos se equivalem, ou seja, é
preciso dissertar e tambémargumentar.Por vezes o aluno ignora essa determinação e se limita aexpordados e informações sobre o tema.
Está, por exemplo, muito bem informado sobre fontes de energia, e para
demonstrar isso recheia a folha de redação com as vantagens e desvantagens de
cada fonte. Mas não defende, com argumentos consistentes, nenhuma delas.
Nesse caso faz uma dissertaçãoexpositiva,
que se confunde com a descrição. Isso pode levar a uma nota muito baixa, ou
mesmo ao zero, na competência 3 (que trata dos argumentos) e na 5 (que diz
respeito às propostas). A tendência a expor ou descrever, em vez de discutir o
tema, decorre de um equívoco sobre o conceito de informatividade (o fator que
mede o grau de informação do texto). A informatividade se define como asuficiência, e não o excesso,
de informações.
Assim, antes de encher o texto com exemplos, citações,
estatísticas, o candidato deve ponderar se precisa mesmo de tudo isso. As
informações têm que ser relevantes para o ponto de vista defendido; do
contrário, o aluno dará a entender que tem boa memória mas uma limitada
capacidade crítica. Isso é tudo o que o Enem não quer.
O Realismo no Brasil tem sua
marca logo após a metade do século XIX e se apresenta como um modelo de arte
que irá, por meio de uma descrição objetiva da realidade, redimensionar o papel
da Literatura e rompendo com paradigma apresentado pelo Romantismo, escola antecedente.
Mas, é bom lembrarmos que o Realismo não estava só nesta batalha, pois neste
momento ainda temos o Naturalismo – como extensão das propostas realistas, e o
Parnasianismo, manifestação dos ideais realistas na poesia. Seria bom ressaltar
que este Realismo brasileiro aponta para duas vertentes: a primeira teria por base os problemas
sociais, centralizadas no ambiente urbano e nos elementos do dia a dia; enquanto a segunda, tem pontos de concexão
com o Naturalismo, associando a conduta
humana e a terra, em uma relação quase
de combate entre o ambiente e o homem.
Diante deste pequeno resumo, peço para que leiam com atenção os textos que segue, como também os videos, pois lhe ofertarão um pouco mais de informação para o aprimoramento dos seus estudos e consolidação dos seus conhecimentos.
Johniere Alves Ribeiro
Realismo
O Realismo marcou fortemente a literatura
europeia na segunda metade do século 19. O amadurecimento das tendências que o
caracterizaram deu-se a partir dos movimentos revolucionários de 1848.
É importante assinalar que as relações do Realismo com o Romantismo são bem mais complexas dos que
as de uma simples negação - existem no Realismo elementos de acentuada
contestação do Romantismo, mas também de continuidade.
Entre os principais escritores do Realismo destacam-se os franceses Balzac e Flaubert.
Características
·O excessivo subjetivismo romântico é substituído pela descrição da
realidade (e da relação do homem com a sociedade).
·Influência de movimentos políticos (socialismo, comunismo, anarquismo
etc.).
·A ciência se afirma como único método para se conhecer, efetivamente, a
realidade.
·Novos campos do conhecimento (como a sociologia e a psicologia)
influenciam a literatura.
·O "eu" literário não será mais fruto da espontaneidade ou da
emotividade, como no Romantismo, mas de uma reflexão muitas vezes aguda e
sempre consciente dos limites que a sociedade impõe ao homem - e das angústias
e insatisfações daí decorrentes.
•Lentamente,
os escritores abandonam o verso condoreiro ou grandiloquente de Castro Alves e o idealismo de José de Alencar, com sua tendência a
enaltecer o índio, transformando-o na figura do “bom selvagem” de Rousseau.
•Passa a
ocorrer uma tentativa de reconhecimento da realidade brasileira, acompanhada
da reelaboração da linguagem.
•Há uma
diversificação das técnicas narrativas, seja na utilização do material
regional como base da ficção, seja no estudo de individualidades e seus
relacionamentos sociais.
•O texto
literário ganha autonomia. Não há mais um projeto nacional a lhe determinar o
conteúdo ou a forma. O texto passa a ser obra de arte autônoma, cujo objetivo
é, antes de tudo, exatamente esse: ser obra literária.
Áudio do conto " A Cartomante"
Obras e autores
·O Ateneu, de Raul Pompeia: o discurso narrativo que compõe o
mundo do pequeno Sérgio, levado pelo pai para um colégio interno (Ateneu),
instaura, na verdade, um microcosmo que acentua e intensifica a realidade
existente fora do colégio. É o primeiro romance a retratar, no Brasil, a
adolescência. O autor mescla refinada psicologia e crítica aos valores da
sociedade.
·Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha: com traços naturalistas, o
romance critica o castigo corporal, comum na Marinha da época, e faz um estudo
do homossexualismo. É uma construção sóbria e precisa.
·Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva: trata-se de uma
anotação regional cuidadosa de ambientes e de usos da língua (inclusive das
estruturas sintáticas). História trágica baseada em fatos reais.
Merece atenção especial o caso singular de Machado de Assis. Poeta, crítico, genial como
contista e romancista, a obra machadiana estilhaça os esquemas literários da
época, aprofunda as experimentações com a linguagem, torna mais complexa a
sondagem do drama humano e demonstra preocupação inusitada com os elementos da
própria narrativa (tempo, espaço, personagens, etc. se distanciam dos chavões
da época).
A obra de Machado de Assis pretende, em sua essência, analisar o espírito
humano e refletir sobre os valores que não pertencem apenas aos brasileiros,
mas são patrimônio de todos os homens. E Machado o faz sem perder de vista a
realidade brasileira, antecipando-se aoModernismo e criando um texto ácido, no
qual a ironia e a paródia são extremamente refinadas.
O núcleo narrativo machadiano é composto pelos romances:
·Memórias póstumas de Brás Cubas (1881):
narrada por um defunto, a obra apresenta a vida do anti-herói Brás Cubas. Com
alta carga irônica, Machado inova, inclusive, nos recursos gráficos. É um
divisor de águas não só na obra machadiana, mas na própria literatura
brasileira.
·Quincas Borba (1891): narra as
desventuras do tolo Rubião, que chega a ser cômico em seu completo despreparo
para a vida. Machado também aproveita o romance para fazer críticas irônicas ao
darwinismo.
·Dom Casmurro (1899): obra de caráter
ambíguo, com personagens complexos, a história é contada por um narrador que,
gradativamente, vai se revelando pouco confiável, o que só aprofunda ainda mais
a insegurança e as dúvidas do leitor. De maneira genial, Machado apresenta os
limites e os paradoxos da linguagem por meio da própria linguagem.
Por Márcia Lígia Guidin, Especial
para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Se você ler essa
obra de Machado de Assis com atenção, verá que Bentinho(apelidado de
"casmurro", de velho, viúvo e calado) decide contar sua história
desde a infância para compreender algo mais do que o suposto adultério de sua
mulher: ele quer saber se ela sempre foi como ele a via depois do casamento:
falsa e dissimulada. Enquanto Bentinho narra seus amores, ele manipula nossas
opiniões, pois vai dando pistas de que ela poderia mesmo tê-lo traído e ter
tido um filho com o melhor amigo dele.
Mas fique esperto: é a voz dele,
rico e bem-sucedido advogado, que você lê. Capitunão está mais lá no
seu "julgamento" para se defender. Ela já havia morrido. E ele
precisa entender o que houve com seu amor e seu casamento. Ele é, se não nos
deixamos enganar e o lermos melhor, um homem conservador, patriarcal, inseguro
(filho único de D. Glória, viúva rica).
Inseguro e mimado desde menino, só soube, por exemplo, que gostava de Capitu
quando ouve, aos quatorze anos, atrás da porta, uma conversa de José
Dias, o agregado da família com sua mãe.
Leva um susto, pois descobre o amor
pela voz de outra pessoa. Crescido, depois de conseguir se livrar do seminário
a que estava destinado por promessa de sua mãe (leia a "negociação"
que fizeram com Deus...é deliciosa), casa-se com Capitu. E pouco depois do
nascimento do filho começam os ciúmes.
Tema
de Dom Casmurro
Do romance
"Dom Casmurro", pode-se dizer que o
tema é mais o ciúme que o adultério. Por que a questão central não é o
adultério? Porque não sabemos (nem saberemos) se Capitu o traiu. Machado
escreve o romance com total ambiguidade, dando sinais de que de fato a mulher
poderia ter traído o marido, mas este, contando sua própria história e sendo
tão frágil, também pode ser um psicótico. Esse romance é o resultado de um
exercício de escrita fabuloso, pois até hoje discute-se a força dos argumentos
do narrador de "Dom Casmurro".
A filosofia dos contos machadianos
Contos de Machado de Assis
Mas por falar em
adultério, muitos são os contos que falam dele: "Missa do Galo",
"Singular Ocorrência", "Noite de Almirante", "A
Cartomante", "Último Capítulo". Nm deles, o marido trai a mulher
com sua melhor amiga - chama-se A
Senhora do Galvão. A esposa recebe muitas cartas anônimas, mas como não quer perder a
vida confortável que tem, rasga-as todas. O escritor anônimo fica furioso, por
não poder sequer usufruir da vaidade de ter sido moralista... Vale a pena ler.
A vaidade acompanha
muitas obras de Machado de Assis: desde o romance "Brás Cubas" até o
último, "Memorial de Aires", sempre há os vaidosos e os
exibicionistas. Crueldade disfarçada? Leia o conto "Pai contra mãe".
E, para ver como o homem é um ser
contraditório, não deixe de lado o conto "A igreja do diabo": depois
de tanto esforço, cansado de ser humilhado o diabo contruiu sua igreja. E não é
que os adeptos, que eram muitos e muitos começaram a praticar boas ações às
escondidas? Essa nem o diabo aguentou...
Ler Machado de Assis é muito mais do
que uma obrigação; é um modo de compreender melhor a sociedade na qual vivemos
e da qual usufruímos. Valores éticos e morais muitas vezes são relativizados. E
foi essa máscara que Machado de Assis levantou com destreza, bom humor e
ceticismo.
O reino da cultura popular
nordestina perdeu neste julho de 2012 o seu embaixador, Ariano Suassuna, que se encantou e deixou este mundo de dureza
esperançosa e partiu montado à galope para o reino do além. Fica apenas a
saudade e a certeza do legado de um homem que tentou nos apresentar a nossa própria
cultura e a nossa arte.
Desde que li “ O Auto da
Compadecida”, tão bem transposta para o cinema; “ E o Santo e a Porca” renovei
meu gosto pela literatura nordestina e pelos nossos autores. Daí busquei ler “
A Pedra do Reino”, com todo o seu sertão mítico; passei a reler Lourdes Ramalho comecei pela peça “ As
velhas” e não parei mais, tive
curiosidade em ler Hermilo Borba Filho e a sua “A Felicidade”; aprofundei meus
estudos na Literatura de Cordel, principalmente nos clássicos como “O Romance do
Pavão Misterioso”, “ Juvenal e o Dragão”, “ Coco Verde e Melancia”, etc; mas me
dediquei aos folhetos de Manoel Monteiro...
Diante disso, posso afirmar
que quem lem contato com a obra de Ariano
não deixará de amar o Nordeste e seu povo, se encantará com nossa
realidade e entenderá o porque do nordestino ser “ antes de tudo um forte”, tal
qual afirmou Euclides da Cunha”
Sendo assim, segue algumas
frases emblemáticas de Ariano, um pouco da biografia do autor, como também
videos em o nosso bardo é o personagem central.
Não sou nem otimista, nem pessimista.
Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista
esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito
longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo
todo.”
Ariano Suassuna
“A massificação procura baixar a
qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais
prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.”
Ariano Suassuna
“… que é muito difícil você vencer a
injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos
privilegiados e o país dos despossuídos.”
Ariano Suassuna
Sou um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimento
Ariano Suassuna
“O otimista é um tolo. O pessimista, um
chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Ariano Suassuna
LÁPIDE
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna
Biografia
Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na
sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico
Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87
anos.
Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João
Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No
ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no
sertão, na Fazenda Acauhan.
Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no
Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937.
Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a
uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação”
seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.
A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os
estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano
seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E,
junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu
sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam
as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada
pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi
montada no ano seguinte.
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins
Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença
pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou
a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a
residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar,
porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O
Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955),
peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato
Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na
Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O
Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo
e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vacae
oPoder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei,
premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do
Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960)
e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60,
interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de
Estética na UFPe. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça
Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se
como professor em 1994.
Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo
Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe
(1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento
Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de
expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para
procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento,
lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de
Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura,
pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo
Miguel Arraes (1994-1998).
Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance
d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História
d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976),
classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a
cavalgada inspirada noRomance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar
livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada,
dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras
são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do
município.
Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa
da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000).
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário
intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas
Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.
O texto que segue escrevi para o Sarau do MAAC , como parte de uma das últimas homenagens póstumas - 24/07/2014 - ao poeta Manoel Monteiro .
Fiquei muito feliz em term participado deste tributo ao saudoso poeta Manoel Monteiro.
Johniere Alves Ribeiro
Assista um pouco do poeta
Documentário sobre Manoel Monteiro
Trecho do Especial Itararé com participações do poeta no programa
Amigo poeta: o voo solitário de Manoel Monteiro
Sorriso nos lábios. Seriedade melancólica nos os olhos.
Eloquência no uso das palavras. Firmeza em seus posicionamentos. Alto nível de
capacidade criativa. Tradição e inovação. Estas foram características marcantes
do poeta Manoel Monteiro, homem que redimensionou a Literatura de Cordel em
nosso país. Poeta que foi de fundamental
importância para a inserção do folheto no interior das escolas em nossa cidade
e talvez em boa parte do Brasil.
A primeira vez que vi Manoel Monteiro ainda era criança.
Lembro-me como hoje, na travessa Joaquimda Silva Zeca, rua que sobe da Avenida
Canal pela lateral do antigo Restaurante Topical, hoje uma loja de carros - era
a casa do seu filho Robson (onde me deliciava com seus gostosos pastéis). Jogava
bola com amigos, quando o vi, sentando na calçada, com uma máquina de escrever
portátil ao colo. Estava produzindo, com certeza, mais uma de suas histórias.
Aproximei-me daquele senhor, entendi pouca coisa naquele instante e voltei ao
jogo. Não sabia eu que aquele senhor seria muito importante para toda a minha
formação acadêmica.
Foi pelas mãos de Manoel que tive a oportunidade de adentrar
no incrível mundo dos folhetos de cordel, isto porque passei a vender cordel para
o poeta, o que me ofertou um conhecimento mais aprofundado desta arte popular.
Pois, antes, durante e depois de deixar-me alguns folhetos Manoel sempre
conversava e me falava sobre os principais autores e histórias. A partir deste
momento começa nossa amizade. E ao entrar no curso de Letras eu já sabia o que
iria estudar: Literatura de Cordel, mas precisamente os folhetos monteirianos.
Diante disto que exponho, confesso a todos que compareceram
aqui, o
quanto foi difícil colocar todos os verbos desta minha fala no passado, ao me referir
ao poeta. Aqui e acolá, “me peguei” construindo frases com os verbos no
presente. Todavia, acredito que não importa mais as conjugações verbais, Manoel
continuará sempre vivo em sua obra. Sua voz altissonante que já tinha enchido a
feira com as variadashistórias cordel, que a pouco nos dava a alegria de
ouvi-lo em palestras e cursos de formação em torno da literatura popular, nunca
ficará distantes de nós. É só ler um dos seus folhetos e como quem coloca uma conja da o mar aos
ouvidos e escuta as ondas da praia ainda muito distantes como se estivessem por
perto, da mesma forma voltaremos a ouvir o timbre forte da voz do poeta da
Vigário Virgário ecoar.
Mas sem dúvida, confesso a todos vocês, que será
muito difícil encarar nossa VigárioVirgínio, na altura do número 52, sem mais
avistar o poeta no portão do pequeno terraço de sua casa,com o sorriso nos
lábios, mas os olhos sempre sérios, ignotos no tempo, com quem procura uma nova
inspiração. Não o veremos mais com suas tradicionais camisas vermelhas, vestido
como quem está pronto para a guerra. Com certeza estava fardado para a luta
quase inglória contra os versos e as palavras que ali em sua mente borbulhavam.
Manoel Monteiro, em alguns dos folhetos,
exerceu a bem-aventurança da “fome e da sede de justiça”.Usando sua arte em
favor dos menos favorecidos. Fez com maestria a execução desta bem-aventurança
em suas letras. E no silêncio quase introspectivo de um monge, em sua sala
(templo sagrado do cordel) no fundo daquele olhar consegue perceber o que se
passava a sua volta e que era preciso registrar a voz dos marginalizados da
nossa sociedade.
Soube usar a sua literatura como arma a favor
do seu povo. Soube lapidar - como quem esculpe em bruto ferro –, significantes
e significados que ontem, hoje e sempre pairarão por sobre nós. Estes
significantes e significados ajudaram a colocar nosso poeta no panteão dos
imortais cordelistas nordestinos.
Os folhetos do poeta configuraram, quem sabe,
uma nova página na história da Literatura Popular. Ele também foi o responsável
em instituir o que chamava de NOVO CORDEL, voltado para a atualização dos
temas, nunca tentativa de aproximar o leitor contemporâneo de uma modalidade
literária centenária. Tinha alguns folhetos traduzidos para outras línguas e
publicados em grandes editoras de nosso país. Participou de uma edição da
Bienal do Livro em São Paulo. Foi consultado por produtores de novelas de uma
grande rede TV do país, ainda não sabia da novela “Cordel Encantado”, só depois
entendeu o porquê da visita daquelas pessoase porquê de tantas perguntas.
Foi por essas e por outras que Monteiro
tornou-se o maior ícone vivo da literatura de cordel. Com isto, podemos dizer
que o poeta fez valer sua cadeira na Academia Brasileira de Literatura de
Cordel, tornando-se um verdadeiro embaixador do cordel em nosso país.
Tenho certeza queaquele 30 de maio de 2014,
dia do seu sumiço, desemborcou em uma realidade imaginada por todos nós. Os
passos dados pelo nosso poeta naquela dura caminhada recheada de conflitos devem
ser vistos hoje como símbolo de força, de coragem, reflexos do perfil e da
conduta de um homem esculpiu sua trajetória nos versos de uma vida inteira.
Gostei do comentário que o poeta Lau Siqueira postou no blog “A Barca”,ao
comentar a partida do nosso poeta: “... foi
voando, feito um passarinho. Foi para bem longe. Voou o mais alto que pode.
Então, despediu-se da vida com a mesma dignidade que viveu. Não vamos cobrar
qualquer explicação do poeta. Ele apenas decidiu voar sobre os abismos e se
abrigar na eternidade. Vamos respeitar sua vontade. Vamos compreender que a sua
imortalidade começa agora. Sua obra é sua eternidade desde que saiu da casa do
pai, sustentado nas asas do cordel”.
Obrigado Manoel Monteiro por elevar a
Literatura de Cordel e por aceitar-me como pesquisador de sua obra, como também
ter-me no teu seleto grupo de amigos.
Que Deus abençoe e conforte toda tua família,
com também a todos nós amantes da Literatura de Cordel.