Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!”
O reino da cultura popular
nordestina perdeu neste julho de 2012 o seu embaixador, Ariano Suassuna, que se encantou e deixou este mundo de dureza
esperançosa e partiu montado à galope para o reino do além. Fica apenas a
saudade e a certeza do legado de um homem que tentou nos apresentar a nossa própria
cultura e a nossa arte.
Desde que li “ O Auto da
Compadecida”, tão bem transposta para o cinema; “ E o Santo e a Porca” renovei
meu gosto pela literatura nordestina e pelos nossos autores. Daí busquei ler “
A Pedra do Reino”, com todo o seu sertão mítico; passei a reler Lourdes Ramalho comecei pela peça “ As
velhas” e não parei mais, tive
curiosidade em ler Hermilo Borba Filho e a sua “A Felicidade”; aprofundei meus
estudos na Literatura de Cordel, principalmente nos clássicos como “O Romance do
Pavão Misterioso”, “ Juvenal e o Dragão”, “ Coco Verde e Melancia”, etc; mas me
dediquei aos folhetos de Manoel Monteiro...
Diante disso, posso afirmar
que quem lem contato com a obra de Ariano
não deixará de amar o Nordeste e seu povo, se encantará com nossa
realidade e entenderá o porque do nordestino ser “ antes de tudo um forte”, tal
qual afirmou Euclides da Cunha”
Sendo assim, segue algumas
frases emblemáticas de Ariano, um pouco da biografia do autor, como também
videos em o nosso bardo é o personagem central.
Johniere Alves Ribeiro
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Algumas frases emblemáticas de Ariano Suassuna:
“Não troco o meu "oxente"
pelo "ok" de ninguém!”
“
Não sou nem otimista, nem pessimista.
Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista
esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito
longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo
todo.”
Ariano Suassuna
“A massificação procura baixar a
qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais
prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.”
Ariano Suassuna
“… que é muito difícil você vencer a
injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos
privilegiados e o país dos despossuídos.”
Ariano Suassuna
Sou um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimento
Ariano Suassuna
“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Ariano Suassuna
LÁPIDE
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna
Biografia
Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na
sucessão de Genolino Amado e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo Acadêmico
Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87
anos.
Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João
Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No
ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no
sertão, na Fazenda Acauhan.
Com a Revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos políticos no
Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937.
Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a
uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação”
seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.
A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os
estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano
seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E,
junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu
sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam
as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada
pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi
montada no ano seguinte.
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins
Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença
pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou
a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a
residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar,
porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O
Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955),
peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato
Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na
Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O
Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo
e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e
o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei,
premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do
Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960)
e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60,
interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de
Estética na UFPe. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça
Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se
como professor em 1994.
Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo
Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe
(1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento
Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de
expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para
procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento,
lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de
Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura,
pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo
Miguel Arraes (1994-1998).
Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance
d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História
d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976),
classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a
cavalgada inspirada noRomance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar
livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada,
dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras
são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do
município.
Membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa
da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000).
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário
intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas
Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.
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