Johniere Alves Ribeiro
Assista um pouco do poeta
Documentário sobre Manoel Monteiro
Trecho do Especial Itararé com participações do poeta no programa
Amigo poeta: o voo solitário de Manoel Monteiro
Sorriso nos lábios. Seriedade melancólica nos os olhos.
Eloquência no uso das palavras. Firmeza em seus posicionamentos. Alto nível de
capacidade criativa. Tradição e inovação. Estas foram características marcantes
do poeta Manoel Monteiro, homem que redimensionou a Literatura de Cordel em
nosso país. Poeta que foi de fundamental
importância para a inserção do folheto no interior das escolas em nossa cidade
e talvez em boa parte do Brasil.
A primeira vez que vi Manoel Monteiro ainda era criança.
Lembro-me como hoje, na travessa Joaquimda Silva Zeca, rua que sobe da Avenida
Canal pela lateral do antigo Restaurante Topical, hoje uma loja de carros - era
a casa do seu filho Robson (onde me deliciava com seus gostosos pastéis). Jogava
bola com amigos, quando o vi, sentando na calçada, com uma máquina de escrever
portátil ao colo. Estava produzindo, com certeza, mais uma de suas histórias.
Aproximei-me daquele senhor, entendi pouca coisa naquele instante e voltei ao
jogo. Não sabia eu que aquele senhor seria muito importante para toda a minha
formação acadêmica.
Foi pelas mãos de Manoel que tive a oportunidade de adentrar
no incrível mundo dos folhetos de cordel, isto porque passei a vender cordel para
o poeta, o que me ofertou um conhecimento mais aprofundado desta arte popular.
Pois, antes, durante e depois de deixar-me alguns folhetos Manoel sempre
conversava e me falava sobre os principais autores e histórias. A partir deste
momento começa nossa amizade. E ao entrar no curso de Letras eu já sabia o que
iria estudar: Literatura de Cordel, mas precisamente os folhetos monteirianos.
Diante disto que exponho, confesso a todos que compareceram
aqui, o
quanto foi difícil colocar todos os verbos desta minha fala no passado, ao me referir
ao poeta. Aqui e acolá, “me peguei” construindo frases com os verbos no
presente. Todavia, acredito que não importa mais as conjugações verbais, Manoel
continuará sempre vivo em sua obra. Sua voz altissonante que já tinha enchido a
feira com as variadashistórias cordel, que a pouco nos dava a alegria de
ouvi-lo em palestras e cursos de formação em torno da literatura popular, nunca
ficará distantes de nós. É só ler um dos seus folhetos e como quem coloca uma conja da o mar aos
ouvidos e escuta as ondas da praia ainda muito distantes como se estivessem por
perto, da mesma forma voltaremos a ouvir o timbre forte da voz do poeta da
Vigário Virgário ecoar.
Mas sem dúvida, confesso a todos vocês, que será
muito difícil encarar nossa VigárioVirgínio, na altura do número 52, sem mais
avistar o poeta no portão do pequeno terraço de sua casa,com o sorriso nos
lábios, mas os olhos sempre sérios, ignotos no tempo, com quem procura uma nova
inspiração. Não o veremos mais com suas tradicionais camisas vermelhas, vestido
como quem está pronto para a guerra. Com certeza estava fardado para a luta
quase inglória contra os versos e as palavras que ali em sua mente borbulhavam.
Manoel Monteiro, em alguns dos folhetos,
exerceu a bem-aventurança da “fome e da sede de justiça”.Usando sua arte em
favor dos menos favorecidos. Fez com maestria a execução desta bem-aventurança
em suas letras. E no silêncio quase introspectivo de um monge, em sua sala
(templo sagrado do cordel) no fundo daquele olhar consegue perceber o que se
passava a sua volta e que era preciso registrar a voz dos marginalizados da
nossa sociedade.
Soube usar a sua literatura como arma a favor
do seu povo. Soube lapidar - como quem esculpe em bruto ferro –, significantes
e significados que ontem, hoje e sempre pairarão por sobre nós. Estes
significantes e significados ajudaram a colocar nosso poeta no panteão dos
imortais cordelistas nordestinos.
Os folhetos do poeta configuraram, quem sabe,
uma nova página na história da Literatura Popular. Ele também foi o responsável
em instituir o que chamava de NOVO CORDEL, voltado para a atualização dos
temas, nunca tentativa de aproximar o leitor contemporâneo de uma modalidade
literária centenária. Tinha alguns folhetos traduzidos para outras línguas e
publicados em grandes editoras de nosso país. Participou de uma edição da
Bienal do Livro em São Paulo. Foi consultado por produtores de novelas de uma
grande rede TV do país, ainda não sabia da novela “Cordel Encantado”, só depois
entendeu o porquê da visita daquelas pessoase porquê de tantas perguntas.
Foi por essas e por outras que Monteiro
tornou-se o maior ícone vivo da literatura de cordel. Com isto, podemos dizer
que o poeta fez valer sua cadeira na Academia Brasileira de Literatura de
Cordel, tornando-se um verdadeiro embaixador do cordel em nosso país.
Tenho certeza queaquele 30 de maio de 2014,
dia do seu sumiço, desemborcou em uma realidade imaginada por todos nós. Os
passos dados pelo nosso poeta naquela dura caminhada recheada de conflitos devem
ser vistos hoje como símbolo de força, de coragem, reflexos do perfil e da
conduta de um homem esculpiu sua trajetória nos versos de uma vida inteira.
Gostei do comentário que o poeta Lau Siqueira postou no blog “A Barca”,ao
comentar a partida do nosso poeta: “... foi
voando, feito um passarinho. Foi para bem longe. Voou o mais alto que pode.
Então, despediu-se da vida com a mesma dignidade que viveu. Não vamos cobrar
qualquer explicação do poeta. Ele apenas decidiu voar sobre os abismos e se
abrigar na eternidade. Vamos respeitar sua vontade. Vamos compreender que a sua
imortalidade começa agora. Sua obra é sua eternidade desde que saiu da casa do
pai, sustentado nas asas do cordel”.
Obrigado Manoel Monteiro por elevar a
Literatura de Cordel e por aceitar-me como pesquisador de sua obra, como também
ter-me no teu seleto grupo de amigos.
Que Deus abençoe e conforte toda tua família,
com também a todos nós amantes da Literatura de Cordel.
Johniere Alves Ribeiro
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