sábado, 26 de julho de 2014

TRIBUTO AO POETA MANOEL MONTEIRO - MAAC - CAMPINA GRANDE



O texto que segue escrevi para o Sarau do MAAC , como  parte de uma das últimas homenagens póstumas - 24/07/2014 - ao poeta Manoel Monteiro . 





  Fiquei muito feliz em term participado deste tributo ao saudoso poeta Manoel Monteiro.



Johniere Alves Ribeiro

Assista um pouco do poeta 



Documentário sobre Manoel Monteiro 

Trecho do Especial Itararé com participações do poeta no programa 


Amigo poeta: o voo solitário de Manoel Monteiro




Sorriso nos lábios. Seriedade melancólica nos os olhos. Eloquência no uso das palavras. Firmeza em seus posicionamentos. Alto nível de capacidade criativa. Tradição e inovação. Estas foram características marcantes do poeta Manoel Monteiro, homem que redimensionou a Literatura de Cordel em nosso país.  Poeta que foi de fundamental importância para a inserção do folheto no interior das escolas em nossa cidade e talvez em boa parte do Brasil.
A primeira vez que vi Manoel Monteiro ainda era criança. Lembro-me como hoje, na travessa Joaquimda Silva Zeca, rua que sobe da Avenida Canal pela lateral do antigo Restaurante Topical, hoje uma loja de carros - era a casa do seu filho Robson (onde me deliciava com seus gostosos pastéis). Jogava bola com amigos, quando o vi, sentando na calçada, com uma máquina de escrever portátil ao colo. Estava produzindo, com certeza, mais uma de suas histórias. Aproximei-me daquele senhor, entendi pouca coisa naquele instante e voltei ao jogo. Não sabia eu que aquele senhor seria muito importante para toda a minha formação acadêmica.
Foi pelas mãos de Manoel que tive a oportunidade de adentrar no incrível mundo dos folhetos de cordel, isto porque passei a vender cordel para o poeta, o que me ofertou um conhecimento mais aprofundado desta arte popular. Pois, antes, durante e depois de deixar-me alguns folhetos Manoel sempre conversava e me falava sobre os principais autores e histórias. A partir deste momento começa nossa amizade. E ao entrar no curso de Letras eu já sabia o que iria estudar: Literatura de Cordel, mas precisamente os folhetos monteirianos.
Diante disto que exponho, confesso a todos que compareceram aqui, o quanto foi difícil colocar todos os verbos desta minha fala no passado, ao me referir ao poeta. Aqui e acolá, “me peguei” construindo frases com os verbos no presente. Todavia, acredito que não importa mais as conjugações verbais, Manoel continuará sempre vivo em sua obra. Sua voz altissonante que já tinha enchido a feira com as variadashistórias cordel, que a pouco nos dava a alegria de ouvi-lo em palestras e cursos de formação em torno da literatura popular, nunca ficará distantes de nós. É só ler um dos seus folhetos  e como quem coloca uma conja da o mar aos ouvidos e escuta as ondas da praia ainda muito distantes como se estivessem por perto, da mesma forma voltaremos a ouvir o timbre forte da voz do poeta da Vigário Virgário ecoar.


Mas sem dúvida, confesso a todos vocês, que será muito difícil encarar nossa VigárioVirgínio, na altura do número 52, sem mais avistar o poeta no portão do pequeno terraço de sua casa,com o sorriso nos lábios, mas os olhos sempre sérios, ignotos no tempo, com quem procura uma nova inspiração. Não o veremos mais com suas tradicionais camisas vermelhas, vestido como quem está pronto para a guerra. Com certeza estava fardado para a luta quase inglória contra os versos e as palavras que ali em sua mente borbulhavam.
Manoel Monteiro, em alguns dos folhetos, exerceu a bem-aventurança da “fome e da sede de justiça”.Usando sua arte em favor dos menos favorecidos. Fez com maestria a execução desta bem-aventurança em suas letras. E no silêncio quase introspectivo de um monge, em sua sala (templo sagrado do cordel) no fundo daquele olhar consegue perceber o que se passava a sua volta e que era preciso registrar a voz dos marginalizados da nossa sociedade.
Soube usar a sua literatura como arma a favor do seu povo. Soube lapidar - como quem esculpe em bruto ferro –, significantes e significados que ontem, hoje e sempre pairarão por sobre nós. Estes significantes e significados ajudaram a colocar nosso poeta no panteão dos imortais cordelistas nordestinos.
Os folhetos do poeta configuraram, quem sabe, uma nova página na história da Literatura Popular. Ele também foi o responsável em instituir o que chamava de NOVO CORDEL, voltado para a atualização dos temas, nunca tentativa de aproximar o leitor contemporâneo de uma modalidade literária centenária. Tinha alguns folhetos traduzidos para outras línguas e publicados em grandes editoras de nosso país. Participou de uma edição da Bienal do Livro em São Paulo. Foi consultado por produtores de novelas de uma grande rede TV do país, ainda não sabia da novela “Cordel Encantado”, só depois entendeu o porquê da visita daquelas pessoase porquê de tantas perguntas.

Foi por essas e por outras que Monteiro tornou-se o maior ícone vivo da literatura de cordel. Com isto, podemos dizer que o poeta fez valer sua cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, tornando-se um verdadeiro embaixador do cordel em nosso país.
Tenho certeza queaquele 30 de maio de 2014, dia do seu sumiço, desemborcou em uma realidade imaginada por todos nós. Os passos dados pelo nosso poeta naquela dura caminhada recheada de conflitos devem ser vistos hoje como símbolo de força, de coragem, reflexos do perfil e da conduta de um homem esculpiu sua trajetória nos versos de uma vida inteira. Gostei do comentário que o poeta Lau Siqueira postou no blog “A Barca”,ao comentar a partida do nosso poeta: “... foi voando, feito um passarinho. Foi para bem longe. Voou o mais alto que pode. Então, despediu-se da vida com a mesma dignidade que viveu. Não vamos cobrar qualquer explicação do poeta. Ele apenas decidiu voar sobre os abismos e se abrigar na eternidade. Vamos respeitar sua vontade. Vamos compreender que a sua imortalidade começa agora. Sua obra é sua eternidade desde que saiu da casa do pai, sustentado nas asas do cordel”.
Obrigado Manoel Monteiro por elevar a Literatura de Cordel e por aceitar-me como pesquisador de sua obra, como também ter-me no teu seleto grupo de amigos.
Que Deus abençoe e conforte toda tua família, com também a todos nós amantes da Literatura de Cordel.

Johniere Alves Ribeiro







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