quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

QUINHENTISMO - Início da Literatura sobre o Brasil

Quinhentismo no Brasil

A Literatura no Brasil surge tardiamente,- entendesse aqui a literatura escrita, pois nossos índios já desenvolvia uma literatura oral rica e que retratava lendas sobre o surgimento do nosso povo-, digo isto porque na Europa já estamos quase às portas do Barroco e já se tem passado pelo Trovadorismo, Humanismo, Maneirismo.
Desse modo, leia atentamente as informações que seguem e compreenda como a Literatura vai se estruturando em nosso país. Também há dicas de filmes sobre este contexto cultural.

Johniere Alves Ribeiro

Artigo acadêmicas sobre o Quinhentismo, confira:
 http://www4.crb.ucp.pt/biblioteca/rotas/rotas/maria%20aparecida%2019a67%20p.pdf
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Quinhentismo Brasileiro

O Quinhentismo, fase da literatura brasileira do século XVI, tem este nome pelo fato das manifestações literárias se iniciarem no ano de 1.500, época da colonização portuguesa no Brasil. A literatura brasileira, na verdade, ainda não tinha sua identidade, a qual foi sendo formada sob a influência da literatura portuguesa e europeia em geral. Logo, não havia produção literária ligada diretamente ao povo brasileiro, mas sim obras no Brasil que davam significação aos europeus. No entanto, com o passar dos anos, as literaturas informativa e dos jesuítas, foi dando lugar a denotações da visão dos artistas brasileiros.
Na época da colonização brasileira, a Europa vivia seu apogeu no Renascimento, o comércio se despontava, enquanto o êxodo rural provocava um surto de urbanização. Enquanto o homem europeu se dividia entre a conquista material e a espiritual (Contrarreforma), o cidadão brasileiro encontrava no quinhentismo semelhante dicotomia: a literatura informativa, que se voltava para assuntos de natureza material (ouro, prata, ferro, madeira) feita através de cartas dos viajantes ou dos cronistas e a literatura dos jesuítas, que tentavam inserir a catequese.
A carta de Pero Vaz de Caminha traz a referida dicotomia claramente expressa, pois valoriza as conquistas e aventuras marítimas (literatura informativa) ao mesmo tempo que a expansão do cristianismo (literatura jesuíta).
A literatura dos jesuítas tinha como objetivo principal o da catequese. Este trabalho de catequizar norteou as produções literárias na poesia de devoção e no teatro inspirado nas passagens bíblicas.
José de Anchieta é o principal autor jesuíta da época do Quinhentismo, viveu entre os índios, pelos quais era chamado de piahy, que significa “supremo pajé branco”. Foi o autor da primeira gramática do tupi-guarani e também de várias poesias de devoção.
( Por Sabrina Vilarinho - Graduada em Letras - Equipe Brasil Escola)
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QUINHENTISMO

 1 – Introdução
No final do século XV, os portugueses haviam se tornado mestres na arte de navegar. A Escola de Sagres, uma construção conservava até hoje nas rochas do Cabo de São Vicente, era o que havia de mais moderno em pesquisa náutica. O próprio Colombo atravessou o oceano Atlântico, em 1492, utilizando a tecnologia desenvolvida em Portugal.
A hipótese da existência de novas terras tinha sido confirmada. Os países da Europa viviam em efervescência pela conquista de novos mundos. Portugal, transformado em grande potência marítima, no seu afã mercantilista foi espalhado a “Fé e o império” por toda parte. Podemos dizer que a vela quadrada das caravelas portuguesas teve para os grandes descobrimentos o mesmo papel que o foguete Saturno V na conquista da lua.
Foi assim que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500, época em que vigorava o Humanismo em Portugal. Esse fato foi tão importante para os portugueses da época quanto foi, para a humanidade, a chegada do homem à lua em 1969. E como não havia televisão para transmitir o feito, escrivão-mor da esquadra cabralina __ Pero Vaz  de Caminha __ escreveu a Carta ao rei d. Manuel.
Após seu descobrimento, o Brasil ficou por cerca de meio século sem merecer investimentos por parte dos descobridores. Enquanto na Europa era vertiginoso o avanço técnico e cultural, nas terras recém-descobertas não havia ainda iniciativas administrativas e educacionais.
Os maiores contingentes de pessoas que acorreram ao Brasil-Colônia __ exploradores (1530) e trabalhadores (1548) __ constituía-se de estrangeiros. Portanto, o Brasil vivenciou, desde seus primeiros anos, uma economia e uma cultura importadas. Somente em 1549, com a criação de uma escola jesuítica na Bahia, é que teve início a educação no Brasil. E a literatura?
 2 – Literatura Informativa
Os primeiros escritos sobre o Brasil foram documentos de caráter informativo, referentes à terra rica e fecunda, aos nativos estranhos, ao clima tropical, às condições gerais de vida e às atividades colonizadoras. Essa literatura informativa sobre a nova terra (1500-1601), feita por viajantes e missionários, foi significativa, embora não passasse de crônica histórica. Foi graça a esses “retratos” iniciais da terra descoberta que, mais tarde, artistas de vanguarda puderam levar nossas letras a uma posição de crítica e de autonomia. Basta lembrar José de Alencar, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, e outros.

 3 – Literatura Jesuítica

Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil quase cinqüenta anos depois de seu descobrimento (1549). Vieram com o objetivo de catequizar os índios e ministrar o ensino no país. Fundaram os primeiros colégios, únicos centros de atividade intelectual no Brasil-Colônia. Os índios eram objeto de cuidados especiais, ao passo que os escravos africanos que aqui chegaram dez anos depois (1559) eram destinados à exploração.
Foram os jesuítas os iniciadores de nossa literatura. O padre Manuel de Nóbrega escreveu suas primeiras cartas em 1549 e, mais tarde, Anchieta, com seus trabalhos (poesias, autos, gramáticas), ampliou o campo literário e informativo.
O padre Fernão Cardim relata em seus escritos que os nossos índios tinham grande habilidade para a música e para a dança, gostavam da trova repentista e sabiam narrar as façanhas dos antepassados, especialmente as mulheres. Os missionários logo perceberam que poderiam utilizar a vocação para as artes dos índios para a catequese. Desse modo, introduziram no Brasil o teatro, a música e a dança, que teriam grandes desdobramentos no futuro.
Os jesuítas da companhia de Santo Inácio de Loyola fizeram parte da história do Brasil desde seus primeiros anos. Embora condenassem a poligamia e a antropofagia, aprenderam a respeitar a cultura indígena. Na defesa dos direitos humanos, entraram em choque com os colonos que buscavam escravizar índios e tomar suas terras. O Pe. Antônio Vieira também se destacaria na luta para reservar aos índios o espaço a que tinham direito.
 4 – Principais representantes
Alfredo Bosi, importante crítico literário, resumiu assim autores e obras significativos dos primórdios da nossa literatura informativa e jesuítica:
·         a “Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel”, referindo o descobrimento de uma nova terra e as primeiras impressões da natureza e do aborígine;
·         o Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil, de Pero Magalhães Gândavo (1576);
·         a Narrativa epistolar e o Tratado da terra e da gente do Brasil, do jesuíta Fernão Cardim (a primeira certamente de 1583);
·         o Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);
·         os Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618);
·         as Cartas dos missionários jesuítas, escritas nos primeiros séculos de catequese;
·         o Diálogo sobre a conversão dos gentios, do Pe. Manuel de Nóbrega;
·         a História do Brasil, Frei Vicente do Salvador (1627).
·         o Diário de Navegação, de Pero Lopes de Sousa, escravidão do primeiro grupo colonizador, o de Martim Afonso de Sousa (1530);

 O "descobrimento do Brasil" na música brasileira 


O "descobrimento do Brasil" no cinema 



Descobrimento do Brasil é um filme brasileiro de Humberto Mauro realizado em 1936, com trilha sonora de Heitor Vila-Lobos.
Em forma de documentário, narrado com textos extraídos da Carta de Pero Vaz de Caminha, conta a chegada da frota portuguesa às costas brasileiras, em 1500.
Para a cena da primeira missa no Brasil, Humberto Mauro tentou reproduzir fielmente o famoso quadro de Victor Meirelles. Descobrimento do Brasil representou o Brasil no Festival de Veneza de 1938.

Vídeo aula sobre o decobrimento 

Dicas de Filmes:

Descobrimento do Brasil / Período colonial do século 16
- O Descobrimento do Brasil – Documentário
- Caramuru, a Invenção do Brasil
- A Missão
- Desmundo
- Como Era Gostoso o Meu Francês
- Hans Staden
- República Guarani

Brasil Colônia
- Carlota Joaquina
- Xica da Silva
- Tiradentes, o filme
- Independência ou Morte
- Os Inconfidentes
- Quilombo  

 Mais Vídeos  

 O FILME A MISSÃO 

sábado, 18 de janeiro de 2014

O INVENTIVO ZÉ RAMALHO - A TRAJETÓRIA DO CRIADOR DE AVÔHAI

Zé Ramalho é sem dúvida um dos grandes nomes da música popular brasileira. Mas, também é um grande conhecedor da história da música nordestina e ainda nos oferta uma palhinha sobre Zé Limeira, vale a pena.
 Confira neste vídeo que se segue e veja os comentários deste INVENTIVO músico brasileiro e cantor APOCALÍPTICO do SERTÃO PARAIBANO.
 Johniere Alves Ribeiro   

Video: 
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ZÉ LIMEIRA - VERDADE OU MITO - O POETA DO ABSURDO

Tive o prazer de conhecer a poesia de Zé Limeira por meio dos folhetos de cordel. Fiquei impressionado com a capacidade criativa deste poeta paraibano, pois suas imagens beiram o Surrealismo, mas ao mesmo tempo nos faz rir e refletir por meio de situações engraçadas.
Conhecer Zé Limeira é também revisitar a história de Campina Grande e da Paraíba. Vale a pena conhecer um pouco sobre este poeta popular.
Desse modo, leia os texto de Bráulio Tavares e de Mouzar e assista o documentário " O homem que viu Zé Limeira", algo quase inédito, impressionantes depoimentos sobre Orlando Tejo, confira e comente sobre o que achou de Zé Limeira.  
 Johniere Alves Ribeiro  


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Está disponível no YouTube (http://bit.ly/IFR927) o documentário da TV Senado, dirigido por Maurício Melo Jr., “O Homem Que Viu Zé Limeira”, sobre o poeta Orlando Tejo e o seu famoso personagem. Zé Limeira é um personagem épico, no sentido de ser alguém que provavelmente teve existência física mas acabou recebendo uma estatura mitológica. Virou um agregador de lendas, um atrator da imaginação alheia. O cantador de Tauá tornou-se assim por obra e graça de Orlando Tejo e seu livro “Zé Limeira, o Poeta do Absurdo”, um dos livros clássicos sobre a Cantoria de Viola, além de sobre Campina Grande e a Paraíba inteira.
Em princípios dos anos 1970, mais ou menos, Orlando Tejo decidiu-se a colocar no papel as histórias que sabia sobre Zé Limeira, que era um negro alto, de voz poderosa, e tinha um carisma peculiar onde se misturavam a simpatia, uma certa ingenuidade ou primitivismo (consta que ele tinha medo de trem de ferro) e uma capacidade inesgotável para fazer versos sem pé nem cabeça.
Toda cultura tem seu capítulo de nonsense, e muita gente já registrou, aqui mesmo no Nordeste, a presença de poetas que dão 100% de atenção ao som e zero ao sentido. Poetas que vivem para a métrica e a rima, sem dar a menor bola para o que estão dizendo. Zé Limeira tornou-se tão famoso, devido ao livro de Tejo, que hoje certamente muitos versos absurdos de outros poetas são transferidos para ele. Isso sem falar nos versos (esta questão é debatida no filme) que teriam sido escritos por Otacílio Batista e outros amigos de Tejo, depois que este se preocupou com a pequena quantidade de versos autênticos que teria recolhido.
Poeta contando história, os versos que achou são poucos? Não tem problema, qualquer um faz mais. Não é tão difícil, havendo um tal precedente. Quando eu fazia parte da Comissão de Seleção do Congresso Nacional de Violeiros, em Campina, incluí o mote “Se eu quiser eu também faço / igualzinho a Zé Limeira”, que é glosado até hoje, e aparece também no filme. Limeira virou um estilo, pouco importa a pessoa.
O filme entrevista inúmeros poetas e fãs da cantoria (eu inclusive), mas devemos tirar um chapéu especial para Vladimir Carvalho. Deve-se a ele, e a sua mania de filmar tudo, a presença viva de Orlando Tejo neste documentário: falando, rindo, recitando, descrevendo Zé Limeira em detalhes, cantando sambas. (Eu conheço Tejo há quase 50 anos e nunca o tinha visto tocando violão.) Boêmio, gozador, improvisador fino, gente boa até a medula, Orlando Tejo deveria ter sua obra poética esparsa reunida em livro, e se isto acontecer um dia talvez ele acabe se tornando mais famoso do que sua mais famosa criação.
( Bráulio Tavares - O colunista é escritor, compositor, estudou cinema e é pesquisador de literatura fantástica. Contato com o colunista: btavares13@terra.com.br - PUBLICADO EM 14/12/2013 ÀS 08:00H no jornal da paraíba)



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Zé Limeira,  poeta do Absurdo
“A primeira vez que ouvi falar de Zé Limeira foi quando fechávamos o número 1 do Versus, o jornal mais bonito (e certamente estava entre os de melhor qualidade) que a esquerda já teve, no Brasil.
Era final de 1975. O jornal foi lançado poucos dias depois do assassinato de Vladimir Herzog, o clima era tenso. Mas Versus foi lançado como “um jornal de ideias e cultura”. Assim mesmo algumas pessoas tiveram, se não medo, receio de que haveria repressão. Não houve.

Era um negro analfabeto nascido no final do século XIX, em Teixeira (Paraíba), que morreu em 1955. O também poeta Orlando Tejo foi o grande responsável pelo registro da poesia de Zé Limeira, cantador bom de viola, voz potente, que deixava perdidos os que ousavam desafiá-lo, soltando palavras que não existiam em nenhum dicionário, mas que o povo achava bonitas e aplaudia. Mas não eram só palavras inexistentes que ele usava, eram situações inexistentes também, juntando personalidades e fatos célebres que se passaram em séculos muito diferentes. Jesus Cristo, Getúlio Vargas, Napoleão Bonaparte, Tomé de Souza e outros vultos históricos aparecem às vezes convivendo nos mesmos versos, às vezes em situações absurdas, como Jesus Cristo “sentando praça na polícia”.
Orlando Tejo conheceu Zé Limeira e o ouviu pela primeira vez em 1940. Registrou seus versos e publicou o livro “Zé Limeira, poeta do absurdo”, cuja última edição, se não me engano, é do ano 2000. É possível encontrar esse livro em sebos, e quem tiver oportunidade não deve perder: adquira que vale a pena. Aliás, uma lembrança: muita gente acha que Zé Limeira não existiu, que é uma lenda criada por Orlando Tejo, pois não existem fotos dele.
Bom, eu que sempre apreciei cantadores de feira nordestinos, os cordéis, depois que li Zé Limeira, passei a achar todos eles secundários. O negro analfabeto paraibano não tem quem o iguale! Querem uma amostra dos versos dele? Lá vai.

A virgem Maria estava
Brigando com São José:
Você vendeu a jumenta
Me deixou andando a pé
Desta maneira eu termino
Voltando pra Nazaré!

Nisso gritou São José
Maria, deixa de asneira!
Vou comprar outra jumenta
Do jeitinho da primeira,
Quando ouviram uma zuada
No descer duma ladeira

Era um caminhão de feira
Que vinha da Galileia.
São José disse eu vou ver
Se tem canto na boleia
Que possa levar nós três
Até perto da Judeia!

São José deu com a mão,
O motorista parou.
Tem três canto pra nós três?
Jesus foi quem perguntou.
Disse o motorista tem,
Jesus respondeu eu vou!

E foram subindo os três.
Disse o motorista: para!
A gasolina subiu
A passagem é muito cara.
Vocês estarão pensando
Que meu carro é pau-de-arara?

São José puxou da faca
Pra furar os pneus.
Jesus já muito amarelo
Disse assim quando desceu:
Valha-me Nossa Senhora,
Que diabo fizemos eu?!

Vultos históricos
Getúlio foi home bom,
Fazia carnificina.
Gostava de comer fava
Misturada com resina
Sofreu mas ainda foi
Delegado de Campina
 
Pedro Álvares Cabral,
Invento do telefone,
Começou a tocá trombone
Na volta de Zé Leal
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três.
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento.
 
Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e ao mundo,
O poeta Zé Raimundo
Começou a castrar jumento.
Teve um dia um pensamento:
Aquilo tudo é boato
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento.

( Texto de Mouzar Benedito – adaptação Johniere Alves Ribeiro; POEMAS DE Zé Limeira)